Moradores de Rua
Nós não sabemos o suficiente sobre nós mesmos. Acho que é melhor saber que você não sabe, assim você pode crescer com o mistério enquanto o mistério cresce em você. Mas hoje em dia, é claro, todo mundo sabe tudo, é por isso que tantas pessoas estão perdidas.
Esses homens cativos são o preço oculto de uma vida oculta: os justos devem ser capazes de localizar os condenados.
Mundo perfeito
Meu mundo é um todo dividido em amizades e inimizades. Meus inimigos me endurecem na minha convicção do que não quero ser e fazer, meus amigos me fortalecem na convicção do que quero ser e fazer. Obrigado Deus por este mundo perfeito!(Walter Sasso)
Nós também queremos viver.
Nós também amamos a vida.
Para vocês escola; para nós pedir esmola .
Para vocês academia; para nós delegacia.
Para vocês forró; para nós mocó .
Para vocês coca-cola; para nós cheirar cola.
Para vocês avião; para nós camburão .
Para vocês vida bela; para nós morar na favela.
Para vocês televisão; para nós valetão.
Para vocês piscina; para nós chacina .
Para vocês emoção; para nós catar papelão.
Para vocês ir à lua; para nós morar na rua .
Para vocês está bom, felicidade; mas para nós... Igualdade.
Nós também queremos viver.
Nós também amamos a vida...
Emancipada
Nesse município beleza nenhuma alcança a dela
Descendo a rua, como faca que risca a nata sobre o leite
Até o meio dia se intimida, nubla e segue em seu encalço.
Se esta rua fosse minha,
eu mandava ladrilhar,
não para automóveis matar gente,
mas para criança brincar.
Se esta mata fosse minha,
eu não deixava derrubar.
Se cortarem todas as árvores,
onde é que os pássaros vão morar?
Se este rio fosse meu,
eu não deixava poluir.
Joguem esgotos noutra parte,
que os peixes moram aqui.
Se este mundo fosse meu,
Eu fazia tantas mudanças
Que ele seria um paraíso
De bichos, plantas e crianças.
Menina da rua
que vive na lua
pisando este chão
Menina poeta
vive inquieta
ouvindo o coração
Menina faceira
a vida inteira
nunca diz não
Menina da rua
poeta faceira
são versos pra lua
a canção primeira
Menina faceira
tombou na ladeira
na madrugada fria
Não viu mais a lua
sua companheira
sua alegria
Silenciou para sempre
o canto fremente
da menina levada
Que viveu como um canto
no encanto da lua
no canto darua
da rua, o encanto
da madrugada!