Meu Sonho e te Conhecer
É claro que o tempo é o meu guardião e as horas minha bussola. Só que nada tem importância se eu não estiver alinhada a tudo.
Carta sem endereço
Escrevi em linhas abertas o meu sentimento. Mostrei em palavras o amor que sinto. Escolhi um papel delicado, adornado com borboletas – símbolo de despertar, de alma e de espírito. Minhas mãos tremiam enquanto eu derramava sobre a folha todo meu afeto, meu carinho, minhas intenções.
A carta ficou pronta.
O problema é o endereço.
Não sei onde ele mora.
Talvez more nas lacunas escondidas do tempo, em algum canto perdido entre o momento e espera. Talvez viva dentro do meu peito, oculto nas entrelinhas do que ainda não foi dito.
Dobrei o papel com cuidado, coloquei-o em um envelope e guardei. Quem sabe, um dia, ele entre em contato – e eu possa entregar pessoalmente. Cartas assim, sem data, podem esperar em uma gaveta. E, se não chegar ao destinatário, ao menos aliviam o peso da alma que ama silenciosamente.
Rita Padoin
Escritora
Falésias do Meu Silêncio
Falésias íngremes, no meio do nada, fazem morada. Meu olhar se perde entre o vazio e o instante de inspiração. As rochas parecem mortas, mas, ao observá-las atentamente, vejo que há vida, há história, há beleza, há transformação, há mistério. Isso acontece quando conseguimos abrir as cortinas internas, e captar a essência que ali habita – o verdadeiro remédio da cura.
Cada passo traz a sensação de que estamos lutando por um lugar onde possamos, enfim, nos encaixar. Nos limites do tempo, há um intervalo silencioso à espera de que compreendemos seu ensinamento e sua postura diante da pressa daqueles que tentam seguir sem perceber.
Meus passos estão, a cada dia, mais lentos. Não quero mais correr. Não quero ter pressa. Não quero tropeçar. Quero entender. Quero mudar. Quero viver intensamente, sem ter que olhar para trás e revisitar o passado. Quero um olhar voltado ao futuro – um olhar de sucesso, de vida que me espera.
Hoje, penso apenas no agora e no que está por vir...
Rita Padoin
NOVOS PÉS
Esfriei o teu canto nas minhas entranhas,
Pois perdeste o sentido no meu sentimento,
Foi um vento sutil que me arejou pra vida
E limpou este pátio para um novo ciclo...
Não insista que pense numa reciclagem,
Relação como a nossa nem é sustentável,
Desmatamos demais o nosso fundo ambiente;
Fomos algo intragável para qualquer tempo...
Resolvi declarar esta vaga em aberto,
Sem cair nas lacunas que já me fecharam;
Vou a busca do incerto; não quero remakes...
Joguei fora o café que não vou requentar,
Quero ter sob o mapa ou a planta do pé,
A leveza insondável de novas poeiras...
Se por enquanto estou no céu outono inverno, pouco importa. Meu coração está sempre aberto à luz que pode chegar... por isso nunca deixo a esperança, por mais grilos que saltem aos olhos.
Estou à espera do amor para ser estação definitiva dos meus passos. Muitos torcem para que minh´alma jamais receba esse dom... Para que a felicidade não seja definitiva nos domínios do que há de mais profundo e reservado em mim.
Serei feliz assim mesmo... Contra todas as previsões. Receberei essa graça numa hora inesperada. Quem olhar nos meus olhos verá flores... Os que duvidam de minha primavera... verão.
EDUCAR É VIVER
Demétrio Sena, Magé - RJ.
A criança confere o meu discurso
no percurso das minhas atitudes;
na firmeza ou na fuga dos meus olhos;
na transparência do que a fala diz...
O menino defere ou indefere
meus conselhos, as recomendações,
quando a própria postura me autentica
ou as contradições me desmascaram...
Valem mais as leituras das ações;
das lições de vivência consistente
no contexto real de minha vida...
Sou estrada pros passos do meu filho;
sou espelho da fé que o meu aluno
tem ou não neste mundo; nas pessoas...
PAIS, MÃES E FILHOS
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Nunca tive saudades do meu pai. Tive, sim, saudades do pai que meu pai não foi. Na verdade, saudades de qualquer saudade que teria, se a minha história e de meus irmãos com ele fosse outra.
Ao me tornar e “retornar” pai, passei a ter medo. Um medo imenso de que minhas filhas algum dia não tenham saudades do pai que tiveram, mas, do pai que não fui. Ou que tenham saudades de qualquer saudade que pudessem ter, se nossa história fosse outra. Se tivéssemos história, pelo menos que valesse a pena lembrar.
Pais e mães deveriam refletir mais a respeito disso. Deveriam se preocupar em construir com seus filhos, histórias relevantes. De amor e presença. De atenção e cumplicidade. Se houver sofrimento - e sempre há -, que o sofrimento seja compensado por esses atributos indispensáveis à relação pai, mãe e filhos.
Que seja por egoísmo. Pelo simples deixar saudades. Não tem problema, porque esse egoísmo tem a capacidade mágica de salvar os filhos de uma frustração eterna.
Amor secreto
Tenho rédea e te quero na medida,
como posso e bem sei meu não poder,
deixo a vida esquecer a vigilância
e me deixo furtar alguns momentos.
Fantasio, me visto e me desnudo,
te componho na descomposição,
tiro tudo e mergulho no meu sonho
pra que teu coração não sobressalte...
É assim que nos tenho cá, no fundo,
há um mundo moldado para nós
numa chance que o mundo não dará...
Sonho enquanto preservo este segredo,
sem o medo que veste a flor da pele
ou afia os espinhos dos meus olhos...
NOCAUTE
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Eram gritos demais pra pouco eco;
meu silêncio chegou a ficar rouco;
fui um louco incurável por você,
pela minha insistência em ficar são...
Foi usura sem bens, nenhum valor,
porque sempre sonhei lhe ter do nada,
sem falar desse amor trancafiado
no meu medo; na minha timidez...
Muita espera pra nenhuma procura,
tanta era e nenhuma ocasião
pro desvão dos meus olhos inibidos...
Deveria ter dado som aos gritos,
corpo ao mito, equilíbrio ao coração
que bateu até ser nocauteado...
CARTA DE AMIGO CÉTICO
Demétrio Sena - Magé
Meu amigo; vê se não carta - como também não descarta -, mas esta carta não é para tirar da manga... e não manga de mim por causa dela... é para ti. Não Parati nem qualquer outra cidade, mas para ti. Acorda a corda e deixa de marra... ou amarra a marra, que o posto oposto é onde há parto e aparto a briga, pois agora tem ágora para brigas. Não boto acento no assento, há cento e tantos dias não como, como não sei. Só sei que o culto oculto eleva e leva sem desculpas... nem dez culpas... pois nada nada em águas alvas e, o alvo é alvo da mosca na qual jamais acertei.
Eu me livro com livro e sei que a porta aporta lembranças, porta saudades e me pergunta: "E você; qual quer entre qualquer uma?". Seja como for, te peço que peça a peça certa, e acerta; encara a vida em cara limpa e não atira a tira... nem atola a tola no convento com vento, em meio à catinga da caatinga do abandono. É a sina que assina o conto que não conto nem contas, entre as contas dos contra e dos pró. Calma; não sou ator que atormente. Ator mente e atua a tua e também minha vida. Não tenho fé, porque fé demais fede mais; fé de menos nem fede nem cheira.
Acho que acabo aqui. porque há cabo aqui e não quero ser presa da surpresa do acaso nem do ocaso do caso sério com o qual não brinco... mas é brinco na orelha da minha saga. estou doente do ente que há em mim. Não fica assim... ou fica sim, mas não assim, porque há sim, esperança no ar, apesar de a pesar e sentir que não pesa muito. Seja como for, como flor e digiro espinho; dirijo o que digiro para o esquecimento, mas eis que cimento não há. Perdão, amigo; mas eu dei adeus a Deus... e fiquei cético... sei que não tem antisséptico... nem anti-cético para me ajudar.
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#respeiteautorias Isso é lei.
CESTO DE LEMBRANÇAS
Demétrio Sena - Magé
Nas maçãs do meu rosto,
as lembranças de amoras
que vivi.
Dos meus pés atolados
em jacas e jambos...
eram como molambos
daqueles quintais...
Quando a gíria da hora
era chamar gente de bicho,
eu comia mais bicho
do que goiaba.
Gostava de carambola
por parecer estrela...
de banana ouro,
por enriquecer a barriga.
E para mim,
era distante, o figo... duma figa.
No coco da minha cabeça,
a vida manga de outrora,
porque me faz relembrar
que destas frutas
com que brinco agora,
umas nem eram pro meu bico.
Hoje são poesia
como a melancia
que já como,
como já como a pera.
Caqui pra nós;
pra mim sozinho:
O tempo passa
como as uvas
viram passas ou vinho.
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Respeite autorias. É lei.
MEDO DO CLARO
Demétrio Sena Magé
Eu tenho medo do claro;
meu corpo todo estremece,
porque me sinto inseguro...
é justamente no claro
que a escuridão aparece...
e me dá medo do escuro...
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Respeite autorias. É lei
