Mão Amiga

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Era o que ele estudava. "A estrutura, quer dizer, a estrutura", ele repetia e abria a mão branquíssima ao esboçar o gesto redondo. Eu ficava olhando seu gesto impreciso porque uma bolha de sabão é mesmo imprecisa, nem sólida nem líquida, nem realidade nem sonho. Película e oco. "A estrutura da bolha de sabão, compreende?" Não o compreendia. Não tinha importância. Importante era o quintal da minha meninice com seus verdes canudos de mamoeiro, quando cortava os mais tenros, que sopravam as bolas maiores, mais perfeitas. Uma de cada vez. Amor calculado, porque na afobação o sopro desencadeava o processo e um delírio de cachos escorriam pelo canudo e vinham rebentar na minha boca, a espuma descendo pelo queixo. Molhando o peito. Então eu jogava longe canudo e caneca. Para recomeçar no dia seguinte, sim, as bolhas de sabão. Mas e a estrutura? "A estrutura", ele insistia. E seu gesto delgado de envolvimento e fuga parecia tocar mas guardava distância, cuidado,cuidadinho, ô! a paciência. A paixão.

No escuro eu sentia essa paixão contornando sutilíssima meu corpo. Estou me espiritualizando, eu disse e ele riu fazendo fremir os dedos-asas, a mão distendida imitando libélula na superfície da água mas sem se comprometer com o fundo, divagações à flor da pele, ô! amor de ritual sem sangue. Sem grito. Amor de transparências e membranas, condenado à ruptura.

Ainda fechei a janela para retê-la, mas com sua superfície que refletia tudo ela avançou cega contra o vidro. Milhares de olhos e não enxergava. Deixou um círculo de espuma.

Lygia Fagundes Telles
Os contos. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

Nota: Trecho do conto A estrutura da bolha de sabão.

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Inserida por cazarbinati

Sua presença,
Semi- abraço,
A mão no ombro, que não esquece o toque de carinho,
Só Alegria?
Como ?
só?
alegria?
Muito tempo,
Ausência sua,
O amado no coração
Protagonista de todas fantasia, desejo e tesão.

Inserida por NiravaGulaboBeth

PÓS-MASTURBATÓRIO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Só agora percebo;
é minha mão...
Não são seus lábios,
não é seu corpo
nem seu vão.

Inserida por demetriosena

⁠À Distância de Um Suspiro


Era só uma conversa no sofá. Café na mão, assunto solto. Mas quando nossos joelhos se encostaram, o ar pareceu ficar pesado.

O jeito como ela mordia o lábio me fazia esquecer qualquer frase. Tudo virou vontade de aproximar, de provar, de perder o rumo.

No fundo, sabíamos: se a gente se encostasse de verdade, não teria mais volta.

Inserida por Vozqueninguem-ouve