Genuíno
Não sejas um burguês dominante e nem um serviçal submisso e resignado, para que seus filhos não sintam -se envergonhados ou medrosos pela lei do retorno. Por que o ladrão vai onde a coruja dorme.
O espírito está havido da habitação de Deus, mais o ter, ser e o poder, impossibilita esta conexão, para viver em plenitude com a espiritualidade da Graça, que gera toda alegria, e felicidades, ainda aqui neste domo terreno de espaço, tempo e matéria.
A infância de Herberto Helder
No princípio era a ilha
embora se diga
o Espírito de Deus
abraçava as águas
Nesse tempo
estendia-me na terra
para olhar as estrelas
e não pensava
que esses corpos de fogo
pudessem ser perigosos
Nesse tempo
marcava a latitude das estrelas
ordenando berlindes
sobre a erva
Não sabia que todo o poema
é um tumulto
que pode abalar
a ordem do universo agora
acredito
Eu era quase um anjo
e escrevia relatórios
precisos
acerca do silêncio
Nesse tempo
ainda era possível
encontrar Deus
pelos baldios
Isto foi antes
de aprender a álgebra
Quietos fazemos as grandes viagens
só a alma convive com as paragens
estranhas
Inscrição
o brilho é o leve
júbilo
que sustenta os versos
ainda que sejamos obscuros
e nenhum nome
sirva jamais para dizer
o fogo
Revelação
Meu o ofício incerto das palavras
a evocação do tempo
o recurso ao fogo
Meu o provisório olhar
sobre este rio
o fascínio consentido das margens
sitiando a distância
Meus são os dedos que em tumulto
modelam capitéis
de sombra e arestas
Mas oculto na brisa
és Tu quem percorre o poema
despertando as aves
e dando nome aos peixes
Os dias de Job
Às vezes rezo
sou um cego e vejo
as palavras o reunir
das sombras
às vezes nada digo
estendo as mãos como uma concha
puro sinal da alma
a porta
queria que batesses
tomasses um por um os meus refúgios
estes dedos
inquietos na ignorância
do fogo
pois que tempo abrigará
os anjos
e que dia erguerá todo o sol
que há nas dunas
por isso
às vezes chove quando rezo
às vezes quase neva
sobre o pão
Epitáfio para R.M. Rilke
quando as palavras
buscarem amparo
em teu secreto canto
serás ainda
o único pastor
do meu silêncio
A casa onde às vezes regresso
A casa onde às vezes regresso é tão distante
da que deixei pela manhã
no mundo
a água tomou o lugar de tudo
reúno baldes, estes vasos guardados
mas chove sem parar há muitos anos
Durmo no mar, durmo ao lado de meu pai
uma viagem se deu
entre as mãos e o furor
uma viagem se deu: a noite abate-se fechada
sobre o corpo
Tivesse ainda tempo e entregava-te
o coração
Busquei a chave perfeita
que não trancasse, mas
apenas protegesse tudo
que ficou atrás da porta.
Reuni o que era mais precioso,
emocionante e que te faz
muito bem.
E ESSE TAL DE AMOR PRÓPRIO? 🌹
"Pessoas que exaltam o amor próprio nas redes sociais são aquelas que ainda não se libertaram das decepções do passado"
Pregar o amor próprio ao mundo é sinal de mágoas passadas, de reação ao que se considera que foi injusto nas relações, é a incapacidade de lhe dar com situações mal resolvidas, que ainda provoca sofrimento, sejam elas por relações amorosas, familiares ou entre amigos(as).
Alguém liberto dos males causados pelas relações anteriores, que esteja livre das amarras do passado, não prega o amor próprio de maneira explícita, pois essa pessoa não sente a necessidade de gritar ao mundo que se ama. Mesmo estando, na maioria das vezes em um período de solidão, essa pessoa se basta por se sentir livre, tem a alma leve e a consciência tranquila, acredita que em breve coisas boas virão.
Isso não quer dizer que essa pessoa não se valoriza, mas essa apreciação de si própria se traduz na busca da RECIPROCIDADE. Assim, livre do egoísmo ou do tal do amor próprio, essa pessoa poderá redirecionar suas energias para aquelas(as) pessoas que tem a mesma sintonia vibracional, que também estão combatendo o egoísmo e a individualidade dentro de si e estão em busca de reciprocidade.
Neste momento, em que o amor fraterno e recíproco substitui o amor próprio de forma dual, em que ambos querem se ajudar e se proteger, a reciprocidade cria o elo de ligação entre duas pessoas emocionalmente resolvidas, elo este baseado em energias vibracionais equânimes. Neste momento, o medo de se abrir se torna vontade de estar próximo, e acontece a saída de trás da muralha de sentimentos ruins, travestida na linguagem moderna de amor próprio
