— Sou tola, Zé. — Porque diz isso,... Suzana Monteiro

— Sou tola, Zé.

— Porque diz isso, pequena?

— Porque sou fraca… tão fraca que chega a ser engraçado.

— (risos) Aonde queres chegar?

— (…) Sofro de amores irreais, Zé. Muito engraçado dizer isso, em consideração as milhões de vezes que jurei perder essa fé devastadora no amor. Mais engraçado ainda é ver como sou boba e clichê: Bata conhecer um rapaz interessante…

— Interessante?

— É, interessante. Não me simpatizo a gente bonita, beleza óbvia óbvia é um saco, o tempo passa e leva embora. Gosto mesmo é do que vem de dentro.

— (risos)

— Soube bem assim, Zé. Basta conhecer alguém que me aspire confiança e me arranque sorrisos bobos que me derreto toda. Já acho que é amor, e invento aquilo que não é, transformo essa afinidade em grandezas sentimentais por medo de acabar sozinha. Puro medo. Sou fraca, Zé…

— E consideras isso fraqueza, menina?

— Talvez. Pra que faço isso, Zé? Pra que acho de criar esses laços se no fim acabo sozinha, emaranhada neles? Tão sufocada. Pra que fazer tanto caso em puro encanto?

— Encanto?

— É. Isso não é amor, nunca foi. Amar não passa nunca, Zé. Amor não acaba. Amar é bom, amor é a coisa mais linda desse mundo. Amar não dói, amor é pra poucos.

— E é?

— É sim, Zé. Quem sabe amar tem a pureza mais bonita desse mundo. E eu achava que tinha essa pureza, viu? Fazia dessa vontade de viver, sorrir, cuidar - essa mera ilusão que sabia amar - minha fé pra tudo.

— E isso é errado, pequena?

— É sim. Porque ninguém nunca precisou me ver sorrir pra sorrir também, Zé. E até que eu encontre esse alguém, os poetas que me perdoem, mas considero esse tal de amor uma grande besteira.

— Então espere! Tenha fé, não pare de acreditar, pequena. Tu mesma disse que amar é bom…

— Não Zé, não. Por agora não, to melhor assim. E talvez pra sempre, viu? Amor não é pra mim, nunca foi. Amar não, amar nunca! Agora me traga mais uma dose de desilusão por favor. Eu só quero esquecer (…)