MEU MENINO O menino que fui está... Naeno Rocha

MEU MENINO

O menino que fui está distante
Andando sobre algum lajedo,
Vendo o resto das águas acumulado em poças
Buracos que ainda cabem peixes,
Proporcionais, ao tamanho de mim.
Falo das poças dos peixes de ornamento
Querendo saltar o menino, que por aí chora.
E tudo eu faria para ir buscá-lo,
Ter sua companhia, minha que falta
Um pedaço que ficou, melhor
Do que o que se ajoelhou , rezou e partiu.
Eu queria o menino aqui comigo,
Mas como reverter as luas, transgredir as estrelas,
Os invernos que começaram e findaram,
Tantos peixes que no fim morreram.
Mas eu, se me conheço,
Não me dei tempo, e assim mereço.
O menino chora, a essas horas,
Em que as cigarras cantam pro além.
Onde pisam aqueles pés riscados de urtigas,
Onde transportam o menino, que a mim fustiga,
Sua desaparição, seu conforto de algodão,
Suas conversas longas e boas,
Tempos sorrindo à toa.
Com quem ele se parece agora?
Com as mudanças
Que à ele não se assentaram,
É do mesmo rosto, dos mesmos olhos,
É dos mesmos dias, que não se passaram,
Dos mesmos sonhos que não aconteceram.
As estacas de unha-de-gato
Devem estar ainda encostadas no pequizeiro,
Não suportam mais a casa que sonhávamos fazer.
Uma morada de quinze palmos de largura
E nove mãos de altura.
Lá íamos morar agregados de meu pai.
Mas quem para me ajudar agora,
Cavar, fincar estacas, subir a cumeeira,
Bater o piso de malho,
Pendurar as baladeiras, os bodoques,
Espalhar as esteiras
Para dormirmos ao meio dia.
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naeno*comreservas