PECADO Apedrejem esta criatura culpada... Naeno Rocha

PECADO

Apedrejem esta criatura culpada de todo o azedume de nossas vidas,
Foi ela quem ardilosamente tramou com os espíritos nossa descida.
E que nas noites em que dormíamos sonhando com as rosas
Foi ela quem lançou a praga irretratável e todas vimos fenecidas.

Lancem-na mais à frente, no meio dos condenados da inquisição,
É ela um ser disforme que sob a blasfêmia se cobre,
E nega a Deus, e dos prantos seus, nenhum tem o gosto da lágrima cristã,
Reneguem os seus feitos que por seu tempo já o bastante pra chamar-se cobra.

Eis o que destila a sua boca curta, os seus lábios úmidos, seu andar disperso,
E nem aprende a fala, dos nomes se esquece. Como entrega-la o nosso destino,
Se de queda em queda ela não tem calos, e o que pronuncia ninguém dintingue.

O que logramos em esperar por ela, ainda por pintar-se, uma branca tela.
Talvez se acerte em isola-la longe, e nos dias vindouros, vemo-la de novo,
Se o azar cessou, é só uma criança. Alguém diz promessa, no escuro, vela.