Contradição Digo que não. Que nunca... Aline Mariz

Contradição


Digo que não. Que nunca mais quero te ver, que não quero mais nada que venha de você, que não quero ouvir sequer uma palavra que saia dessa tua boca, que não quero mais nada, nada, nada. Digo não pra qualquer abraço, beijo, olho, rosto colado, nariz, boca, queixo, orelha. Nós juntos, jamais, mais nada, digo que não quero e que seja ponto final pra você.

Mas me entenda: eu quero tudo e de todos os jeitos. Quero te ver sempre sempre sempre - sem vírgula nem pausa, que é pra durar mais mesmo - e o que vier de você eu tô querendo. Quero abraço, beijo, olho, rosto colado, nariz, boca, queixo, orelha... nós juntos, cada vez mais. Ao invés de não, quero sim. Sim, sim, sim, sim.

Eu queria que você entendesse de uma vez que eu sou toda ao contrário, invento palavras, troco significados, grito pro mundo que não quero que ninguém chegue perto quando o que eu mais quero é carinho. Se você quiser, te deixo ancorar o barco. Acalmo esse mar, arranjo um espaço, te amarro com todo o cuidado no meu cais. Mas você precisa saber que aqui dentro tá tudo virado de ponta a ponta e que eu preciso arrumar antes de você chegar.


Não preciso de mais ninguém que venha pra cá só pra fazer bagunça, desarrumar e deixar tudo de cabeça pra baixo.




Mas se você vier mesmo, deixa pra lá. Ignora minha mania de contradição e lembra que com você eu fico do jeito certo. Paro com o não, começo com o sim, sem contrariedades, só a palavra pura, dizendo o que ela sempre quis dizer. Sim, sim, sim, sim. Não vai me importar bagunça nenhuma. Eu quero mesmo é que você venha, ancore seu barco, more em mim, me desarrume inteira, fique. Mas venha.


Só direi sim. E tenho dito.