Dando-lhe uma passagem segura, em algum... Erna Barros

Dando-lhe uma passagem segura, em algum momento da minha vida, nosso conserto estava quase pronto. Eram etapas difíceis, nada fáceis. Ainda, uma pequena coisa estava para acontecer. Havia sempre algum problema. Era necessário muito esforço. Era engraçado. Eu falava sozinha, gritando numa cabine, à prova de mim mesmo. E soube por último que o primeiro obstáculo era não falar sua língua. Mas demorei a perceber. Não nos entendíamos, senão talvez em nossas danças de pupilas. E ainda era engraçado. Eram passos a meu ver, inusitados. O segundo era que havia algo incompreendido além de todas as conversas. Como eu poderia adivinhar? Pensei em dizer-lhe, era tão óbvio que depois de tudo, ainda havia o nada. Nosso nada, supostamente nosso, isolado e de ninguém. Mas o fundamental nunca seria dito. E então desisti. Poderia apenas querer, além do que meus olhos já determinavam desejar. Era o prazer de encontrar, em cada detalhe, a satisfação de um sentimento correspondido; satisfação, ela e nada além.