Sonho -"Não, você está com outra... Aline Mariz

Sonho


-"Não, você está com outra e eu não quero isso pra mim."

- "Não, eu não estou mais. Cansei de estar com quem não quer nada, com quem não se importa. Não quero mais fingir estar procurando por diversão. Eu quero alguém que realmente combine comigo. Tô procurando por você, que parece ter sido feita pra mim e que mesmo assim, te deixei escapar. - Ela gesticulava um "não" com a cabeça, seus olhos implorando para que ele não a magoasse - Não vai embora, não... Não quero mais que você escape. Fica aqui? Eu quero você. Agora, depois... Eu quero estar com você e nada mais."

Foi aí que ela caiu nos braços dele e naquele momento parecia que não existia mais nada, só os dois, grudados, como se fossem um só. Faltam-me palavras para descrever aquela sensação. Passavam-se horas, minutos e segundos, mas não importava... Ali, o tempo não tinha medida. A cada pedaço de instante que se passava, coisas novas iam surgindo: diferentes tipos de olhares e risos, sinestesias, cores, cheiros. O ambiente em que estavam era tão cheio de sentimento, que qualquer um que visse, entenderia o que acontecia. Juntos, passaram mais tempo - se é que se pode falar assim - do que alguém poderia imaginar... Não acabava nunca e era tão bom estar ali; ele e ela, colados, como tinha que ser, como ela tanto queria que fosse. Se entendiam perfeitamente pela conversa de seus olhos, davam as mãos com tanto cuidado e carinho, como se tivessem medo de se perder de novo. Tudo era, da forma mais doce que se possa imaginar, ligado. Era como se eles realmente fossem dois corpos com apenas uma alma.

Qualquer pessoa pode dizer que é piegas, ridículo ou atribuir o adjetivo que quiser. A única coisa que sei é que ninguém vai entender. Só entenderia quem tivesse visto ou sentido, e tais opções estando fora de cogitação, só restam as palavras que aqui resolvi jogar. Pinto-as com todo o esforço que posso lhes oferecer... Só me sobra a esperança de que se entenda o que digo.

E quando falo que era como se eles tivessem apenas uma alma, não minto: eram completos, tão cheios daquele sentimento que não sei explicar. Quando ele resolveu dizer a ela o que sentia, parecia que chovia. Chovia amor dentro e fora deles. Um amor pronto, urgente, gritante... Um daqueles que fazem os corações baterem taquicárdicos e quererem amar no exato momento em que as gotas correm na janela. Era tudo tão lindo que me doeu acordar. Não contei? Era sonho. Foi um dos mais bonitos que já tive. Gosto de dormir. É que assim posso sonhar o quanto quiser e até acordar cansada; não ligo. Já fazem dois dias e ainda me dói. Dói por ter perdido o que nunca tive. Por quanto tempo mais irá doer?

Vez ou outra o tal sentimento vem à tona, me fazendo sentir tudo de novo. Mas dura pouco e é uma pena que do lado de cá exista essas limitações pro tempo - e para as pessoas que a procuram. Eu não ligaria se fosse verdade... Afinal, que mal há deixar-se molhar pela chuva alguma vez? Creio que as pessoas estão demasiadamente protegidas contra o sentir. Minhas lágrimas evaporaram há tempos: agora só espero a tempestade chegar.

Benzinho, vem cá... Chega, me invade, me toma, mas não me perde de novo. Derrama teus olhos em mim, me conta tuas histórias. É inevitável... A chuva vai te trazer pra cá. Só não demora. Se quiser, te deixo morar no meu coração...