Ela acordou, como acorda normalmente... Letícia Nogara

Ela acordou, como acorda normalmente todas as manhãs. Mas passados alguns minutos começou a perceber que seu coração não iria suportar bater novamente no outro dia. Ela olhava para a luz do dia, e essa mesma luz que um dia ela amou, passou a embaçar seus olhos. E ela não via mais as coisas normalmente. Ela não entendia, sua vida estava boa, monótona, mas ainda dava pra suportar. O que ela acreditava que seria sua única salvação a machucou. É, o amor a machucou. O amor fez seu coração se partir em minúsculas partes. Faz o coração dela ser destroçado. Fez doer, fez chorar. Fez ela acreditar que amar não dava. Que se lamentar também não dava. Ela não sabia mais o que seria da vida dela. Caminhou alguns passos doloridos até o quarto de sua mãe, a mesma a fez ir para a escola, mesmo com todo o sentimento de derrota a afogando.

Ela foi. Seu melhor amigo não estava lá, outras pessoas olhavam para ela. “É, seu amigo está no céu.” Era a única coisa que ela ouvia. Ela não podia acreditar, ela procurou por todos os lados, de sala em sala e ele não estava. Foi na casa dele, ninguém estava lá. Então, ela começou a acreditar. Ela já havia procurado por todos os lados. Ela finalmente acreditou que todos haviam a abandonado. É, o amor a abandonou. Ela perdeu seu melhor amigo. Deus a traiu também. E agora ela sabia que não tinha mais razões para viver. Mas desde que ela acordou já sabia, sabia que daquele dia ela não passava. Não preocupou-se mais com seu melhor amigo. Ela sabia que o encontraria em um lugar melhor. Ela sabia que mesmo se chorasse, ela naquele momento, naquele mesmo dia não iria aguentar mais. Chegou em casa, sua mãe não sabia a dor que sua filha estava sentindo. Sua mãe sabia menos ainda que não teria mais sua filha junto dela, nesse mundo.

Ela não aguentava. Não aguentava mais sua vida. Até a esperança que existia dentro dela se perdeu. A luz no fim do túnel se apagou. Sua vida estava chegando ao fim. Ela buscou um vidro com um líquido estranho. Ela faria algo que sabia que iria doer. Mas querendo ou não, era sua única cura.

Veneno. Como seu organismo reagiria ao sentir veneno em suas veias?

Ela abriu a janela, olhou para sua cidade pela última vez, lembrou de cada coisa que havia passado.E finalmente, segurou o vidro de veneno por entre os dedos. O silêncio tomou conta da dor. Tudo se calou. Exceto pelo vento que balançava as folhas lentamente lá fora. A porta seguia o trajeto para chocar-se com a parede. Os passarinhos cantavam as melodias mais melancólicas que um dia existiram.

Fechou os olhos. Uma lágrima desceu, rasgando seu interior. E assim, mantendo seus olhos fechados. Olhou para aquele inocente vidro de veneno, o guiou até sua boca. Deitou no chão, E então, fez seu último desejo.