Olhares... Nesse momento, momento em que... Kê

Olhares...

Nesse momento, momento em que o vento frio insiste em fazer a janela bater tentando ultrapassa-la e esfriar este cômodo, onde sentada sobre o carpete e escorada na parede me encontro.
Começo a perceber que antes o coração que pulsava calor, hoje pulsa o vazio...
Começo a relembrar os momentos já vividos, algumas das historias que trilharam meu caminho até aqui. Procurando indícios de onde foi que comecei a me perder.
E nesta procura começo a reparar, que por mais que eu tente afastar é o seu olhar que insiste em invadir minha mente...
São os olhares tão estreitos e sempre acompanhados de singelos e discretos sorrisos que mais me lembro.
E paro, desisto de procurar onde me perdi e por alguns momentos, começo a brincar com os planos, lugares e momentos que eu não fiz, não visitei e principalmente não vivi...
Brinco de imaginar teu cheiro, teu gosto, teus jeitos e defeitos...
E vou mais além, as danças juntinhas, teu rosto colado ao meu onde por segundos parece que a música se silencia que o chão perde sua estabilidade, e se não olharmos para baixo até poderíamos acreditar que não havia chão sob nossos pés... Ah! Quantas músicas ficaram por serem dançadas...
Começo então a brincar de quebra cabeça, junto às peças da imaginação com as da realidade, tentando formar uma delicada e simples bela paisagem.
Lembro-me das repetidas perguntas sobre o final de semana e tento juntá-las com tantas perguntas não feitas.
Lembro-me das repetidas palavras de saudações e tento juntá-las com os abraços de saudações não dados, percebo o quanto durante a vida, nós costumamos desperdiçar a oportunidade de demonstrar carinho.
Lembro-me das repetidas frases feitas e tento junta-las com os conjuntos de palavras não faladas perdidas no tempo.
E relembro que as nossas maiores conversas, que nossos tão simples sentimentos foram demonstrados pelos repletos olhares que em silêncios trocamos.
Tivemos nossos poucos momentos, sempre compartilhados com outras pessoas e agora reparo quantos foram os momentos, as lembranças e as histórias que juntos somente nós nunca compartilhamos, quantos foram os passos não dados, as palavras jamais ditas e os caminhos que juntos somente nós nunca andamos... Quanta e quantas foram às oportunidades que juntos eu e você desperdiçamos...

Mas reparo principalmente quanta falta faz os tantos olhares escondidos em memórias que nunca se quer existiram...