A FACE DA VONTADE Das armadilhas de... Felipe Plugrad

A FACE DA VONTADE

Das armadilhas de minha vida, nenhuma foi tão dormente quanto esta floresta. Cada raiz que se aproxima no escuro é uma lembrança do passado. Nos galhos, sobem os insetos das recordações: eles cobrem o teto da mata. Pelos caules e suas cascas escorrem as lágrimas daqueles que choraram sem a nossa ajuda, enquanto as folhas caem como os corações partidos. Essa floresta é como um lugar onde o mundo deposita sua tristeza. Árvores, plantas, seres infinitos, todos juntos no mesmo buraco sombrio; todos mergulhados no mar da escuridão antes de sua chegada. Mas eu estou só de passagem por aqui. Vim para ver se a minha tristeza se encontra, mas eu procuro e não encontro. Eu sei que irei encontrá-la, vim para cá por vontade própria, e somente esses têm capacidade para sair quando quiserem. É quando termina o passeio da treva que se encontra o filho da mesma. Chegou a hora de abandonar esse barco e remar para a realidade. Mas essa tristeza sem fim não é a maldita realidade? A realidade desta insanidade é o conjunto de dentes e carniça que mastigam as árvores no fundo da floresta. O monstro abocanha as plantas inteiras e as cospe rapidamente no riacho de águas claras; o rio que leva ao lugar que procuro: a porta de saída. Esse monstro, com seu rosto deprimido para que não pensem que é bem-vindo, deve ser a consciência, mastigando a infelicidade para transformá-la em aprendizado, em evolução. Pois nas trevas mais malignas ainda há esperança. Agora caminho para a porta, que está aberta aos visitantes. É a porta do desejo; daqueles que desejam sair. Pois os que preferem mergulhar na tristeza não possuem a chave, e assim podem desaparecem contra a felicidade que não querem ver.