Gravado em mim Eu odeio esse seu jeito... Aline Mariz

Gravado em mim


Eu odeio esse seu jeito de ser tudo que eu sempre quis.

Odeio esse seu jeito de se vestir, porque ele é exatamente como eu queria que fosse. Odeio seu jeito de falar, de andar, de mentir. Odeio o sorriso dos teus olhos e o som da tua risada. Odeio cada palavra que me lembra você. Odeio as músicas que você escuta, porque eu as tinha feito como nossas. Odeio essa sua mania de sorrir sem jeito quando me pede desculpas. Odeio quando você me faz acreditar em cada palavra que sai da sua boca. Odeio o caramelo que preenche seus olhos. Odeio me perder nesse seu sorriso e não saber me encontrar no final.

Odeio esse seu jeito de ser tudo que eu sempre quis, e não te ter só pra mim. E o maior problema é que tudo isso que me faz te odiar é exatamente a mesma coisa que me faz te amar. Essa tua cara de sono, que fala sem nem saber o que diz; essa tua mania de insistir no que já não tem mais jeito; esse seu jeito de saber me usar, de me conhecer, de me convencer... Parece até que você tinha o meu manual de instruções, porque você sabe me decifrar em cada palavra e pensamento meu.

Mas o que eu mais detesto é quando você desfaz o nó que nos amarrava e vai embora. Me deixa aqui, sem ter nem sequer um porquê. Você vai e eu fico em vão... É como se você levasse junto tudo o que faz parte de mim. Você não pensa nada, só em você mesmo; esquece de tudo e simplesmente vai-se embora... E me deixa aqui, com o coração estendido no varal, secando as feridas e com a esperança já no fim. A esperança vai acabando e você ainda não voltou. O relógio marca os minutos, os minutos vão formando horas, as horas formam dias e você não volta.

É quando, antes que o vento pudesse secar o resto de uma gota de esperança, você chega. Chega com o sorriso que eu mais gosto estampado na cara e com palavras que sempre me convencem. E eu odeio quando você faz isso, porque você sabe que independente de quando chegasse, meu coração ia continuar lá no varal, estendido, só esperando você voltar; você sabe que meu coração está impregnado de você, e que por mais que eu queira, não consigo tirar seu cheiro de lá... Tornou-se permanente em mim.

Eu odeio quando você chega e, tão facilmente, me pega de volta. Odeio saber que não te tenho do mesmo jeito que você me tem. Odeio quando você mistura as palavras e me faz acreditar que seu coração é de todo meu. Odeio o barulho que o silêncio faz quando você some. Odeio esse teu jeito inteiro; da cabeça aos pés, em cada pedaço teu... Odeio teu tudo e teu todo, porque ele ainda me faz te amar como eu já não devia.

Odeio não conseguir te arrancar de mim, desde o dia em que você me mostrou a freqüência que era só nossa... Desde o dia em que eu te transformei numa canção, e te gravei em mim, de um jeito pra nunca mais te perder.