É como a primavera, disse à garota... Aluísio Rios

É como a primavera, disse à garota curiosa. Tem aquele mesmo cheirinho esperançoso da liberdade. Tu queres gritar, mas não o faz com medo de que a sensação assim como o som se propague no infinito e tenha seu fim na inconseqüência dos atos impensados. Guarda para ti, então, aquele brado incontido que borboleteia por todos os cantos da alma. E gastas horas nos mesmos pensamentos e ações, viciado na fonte inesgotável de poder com que o ponto encantado e luminoso te abastece. Fonte viva de água, terra e fogo que não só dá como também cresce traiçoeiro e intransigente no corpo do inocente hospedeiro. Quando percebe que é mais uma vítima e a dor e a satisfação se confundem não há meios consideráveis de escape a não ser entregar-se e aguardar o destino. Já ouviste falar dele antes, sabes que não há fim, e dentre todas as opções a mais latente é também a mais utópica. Mas ainda temos o livre arbítrio de decidir o que acontece. Talvez fingir que nunca existiu, procurar novas distrações, viver com dúvidas periclitantes, ou então... se entregar de uma vez por todas. Nenhumas das decisões são fáceis, não há nenhum parâmetro. Vivenciar isso é, de fato, abstrair. No final das contas amar deve ser, de qualquer forma, uma arte.