Essa história não conta apenas, uma... Anne Caroline Barbosa

Essa história não conta apenas, uma história. Essa história depende de cada pessoa que passou pela minha vida. Tanto de pessoas que me tocaram de várias formas, quanto daquelas que namoraram minha alma, como se ela não tivesse mais fim, fazendo disso, muito mais do que apenas.

25/10/2007 Noite de Lucce – Parte 1

Suas mãos são tão leves quanto suas palavras. Doce. Da ponta de seus dedos até o toque de seus lábios nos meus. Tem o dom de harmonizar o sensível, o ardente e o sujo, transformando-os numa canção relida a cada olhar. Lucce é o homem que qualquer mulher pediu a Deus. Esse foi seu maior desafio, eu não sou qualquer mulher. Ele tinha um apreço incrível pelo sabor dessa palavra, aliás.
Desafio era o que inconscientemente o movia à superação. Você deve estar se perguntando: Mas que superação, se ele até agora soou como um sonho de homem?
Ele, como você e como eu, é humano. Talvez não como eu, mas não estamos aqui para falar de mim. Antes de irmos ao ponto, só quero você atente para um fato: Desconfie de todas as pessoas que lhe parecem perfeitas demais. Não que eu queira aqui parecer mais um daqueles sábios vazios que tem toda a sua sabedoria baseada em ditados populares como: “Ninguém é perfeito”, mas acontece que as pessoas que tem essa imagem, ou querem disfarçar a atenção pra esconder que são realmente o contrário, da imagem que passam, ou tem um sério complexo de inferioridade e não se aceitam como são.
Esse era o problema de Lucce. Essa era a solução de Lucce.
Embora nunca tivesse me dito o que realmente lhe causou essa revolta consigo mesmo, eu tenho minhas suspeitas.
Lucce não foi a primeira, e nem vai ser a última pessoa que eu conheço que anda agarrada com o fantasma de suas angústias, e cobranças exacerbadas que não fazem o menor sentido pra quem olha de fora. Esse é um dos motivos mais fortes que me trouxeram aqui, a falar do doce, sensível, terno, ardente, engraçado, impulsivo, imprevisível, previsível, inseguro, determinado e confuso Lucce.
Dentre tantas outras características, esse é o Lucce na maior parte de seus estágios, níveis, ou fases. Como preferir.
Nunca fui mística, mas a ardência dos escorpianos ainda vai trair minha base sólida. Eles são simplesmente capazes de envolver de uma forma tão singela que, às vezes, nem percebem. Isso me gerou um encanto imediato. Ele foi capaz de exercer total domínio sobre mim com apenas um olhar de ternura e rigidez.
Estava ele lá sentado sozinho na mesa perdido e completamente entretido, como se não houvesse mais ninguém entre sua caneta, seus papéis e sua funda xícara de café. Eu estava ali, perdida e anestesiada por aquele homem que nem sabia de onde tinha saído, mas sabia onde tinha chegado. Em mim.
Algo me dizia que aquele homem de rosto angelical e pouca barba, que o dava um ar de mistério excitante, tinha que ser meu. Mesmo que não fosse. Era meu ego ferido por ter perdido sua soberania. Sorri. De um jeito tão puro e envergonhado como nem lembrava que era capaz. Sentei numa mesa ao seu lado, com classe, e uma sensualidade que talvez estivesse mascarada aos olhos de Lucce, já que ele era bem mais velho que eu. 30 minutos e nada. NADA! Como assim?
Ele poderia ser até o homem mais seguro e controlado do mundo, mas como ceder ao meu encanto, COMO?
Quando eu já estava quase assumindo que eu tinha perdido aquele jogo, ele me acena e me convida pra sentar ao seu lado. Sou adepta do ditado que diz: “As coisas acontecem quando a gente menos espera”, mas ali, aquilo pra mim não fazia o menor sentido.
Lucce me disse tudo em apenas um olhar, mesmo assim não recusou as palavras, e disse: Um dos principais defeitos de mulheres sedutoras é que elas esquecem que podem seduzir sendo apenas sensualmente naturais. Enquanto você me observava, quem te observava era eu. Me vi em você, não há motivos pra eu não ser sincero, me encantei. Seu jeito leve de gesticular, seu sorriso de menina misturado ao seu olhar de mulher confiante e misteriosa.
Esse foi Lucce, absorvendo todo meu controle. A cada palavra dele, eu mergulhava ainda mais no seu mar sem fim.
Depois dali, acabamos juntos, banhados pela mesma taça de vinho ao som de instigante do barulho da chuva.