DANDO UM JEITO NA ALMA Lembranças... É... Mayara Freire

DANDO UM JEITO NA ALMA

Lembranças...
É como a marca que a brasa deixa na pele, depois de cair acidentalmente, ou não.Lembranças são poderosas!
Elas tem o poder de sustentar um amor por toda uma vida, ou apagá-lo de vez; pode devolver a vida, ou tirá-la de vez. Lembranças que fazem sorrir, chorar, ter medo, desespero, borboletas no estômago, raiva, arrependimento, desejos, ou, simplesmente, não nos causam nada.
Quem me conhece sabe que as lembraças me acompanham e costumam me monitorar, no entanto, elas me incentivam a escrever o que eu sinto de uma maneira quase concreta e abstrata.
Hoje, as lembranças me impulsionam a seguir meus sonhos, a ser persistente, teimosa, a conquistar aquilo que eu acredito e a acreditar naquilo que eu sonho.
Mas são essas mesmas lembranças que me fazem chorar agarrada ao meu travesseiro "meia-lua", que me fazem ter medo do escuro e, muitas vezes, procurar abrigo num aperto de mão, num olhar.
Todas as vezes que trilho um caminho diferente, que não sei onde vai dar, as lembranças voltam e, junto, trazem o medo. Aí, eu procuro descobrir pra onde aquele caminho vai me levar e, eu defino uma trajetória e presumo tudo o que vai acontecer e como eu devo agir.
Mas eu nunca aprendo!
Sempre que faço isso, as coisas saem do meu controle e, eu ajo impulsivamente por não saber como agir. Consequentemente, alguns sonhos ficam machucados, outros, traumatizados, e eles se escondem na gaveta do criado mudo perto da janela, no canto da minha alma.
E, eu, sem notar as suas faltas, não me importo. Às vezes, algumas pessoas se importam e perguntam por eles, eu finjo não saber, mas, no fundo, eu posso sentir o cheiro deles apodrecendo trancados ali, naquela gaveta, infectando toda a minha alma.
Sonhos são como borboletas, eles devem ser livres para pousar em nosso ombro no tempo certo.
Eu andei dando um "jeito" na minha alma.
Desde a última vez que aquele vendaval destruiu quase tudo, eu não tinha voltado lá. As janelas estavam abertas, alguns vidros quebrados e estilhaçados no chão. "...certas bençãos de Deus entram estilhaçando todas as vidraças." O vaso que ficava no cantoda minha alma estava quebrado, alguns sonhos já podres, as últimas tulipas que eu havia colocado para enfeitar a minha alma estavam no chão.
Era hora de arrumar tudo aquilo!
Já havia se passado tempo suficiente para que eu criasse força e coragem para ver o estrago que aquele vendaval havia feito. Cada caco de vidro, cada sonho, cada restinho de tulipa, me trazia lembranças de bons momentos que eu não queria ter vivido.
Os bons momentos são como anestesia, que impedem que a dor seja sentida e que nos faça ter ilusão de que não vai doer.
Os bons momentos impedem que você pense e perceba que vai sofrer, que vai ser difícil esquecer.
Varri o chão da minha alma, joguei os cacos, os sonhos apodrecso e os restos de tulipas. Troquei as vidraças, colhi outras flores e coloquei outro vaso no canto da minha alma.
Quem vê a minha alma agora, não imagina o quanto aquele vendaval feriu e bagunçou tudo o que eu havia arrumado com tanto amor.
As lembranças não me fazem esquecer. E isso é bom! Só assim eu posso dar valor a minha alma, em como é bom vê-la arrumada, com cheiro de flores e com a leve brisa entrando pelas vidraças. E, o melhor, eu não espero mais que me tragam flores, eu mesma as colho e enfeito a minha alma. Porque, para a gente se sentir bem, só depende da gente.