De onde vem... Com certo toque de... Ramon Pestana

De onde vem...

Com certo toque de presunção
Sentia que apareceria
Mas o meu pensar não foi capaz de decifrar
O que ocasionaria a sua chegada.

Acredito que jamais conseguiria
E, se talvez, conseguisse, romperia esse futuro.
Drasticamente rasgaria qualquer rascunho presente
Que lançasse ao que estaria por vim.

E, para justiça, isso nem seria necessário,
Abdicar-me-ia da existência.
Destruir-me-ia sem qualquer resistência.

Chega dessas tentativas e ameaças fúnebres.
Todo esse discurso dramático,
Toda essa eloqüência desenfreada colide...
Choca-se nesse presente inimaginável,

Com os sabores provados.
Com os olhares trocados.
Com os beijos experimentados



E ainda,
Com as palavras, sempre elas,
Dominam-me, como uma brisa no anoitecer,
Soprada do mar, triste e frio. Ah! Como o compreendo!
Entrelaçando-me a alma,
Faz-me sentir toda sua solidão.

E continuo por ali
À espera do amanhecer
Com os primeiros raios,
Com o clarear de todo o breu.
Então, é quando vejo a tua aparição,
Resgatando-me dos meus medos,
Tirando-me do relento
Eis meu Alento!
Um sopro de vida sobre a constância inanimada.
O acalento!
Meu cobertor na nevasca.

Foi num simples olhar
Numa conversa informal
Num encontro casual
Numa noite fatal




Minha pulsação aumenta
Minha pupila dilata
Minha mente pára
Meu corpo fica inquieto
E debruço-me a entender tudo isso

Folheio revistas, e sua imagem salta a meus olhos
Ouço músicas, nelas viajo ao seu encontro
E lá está, esperando-me...
Sabendo de tudo que me faz vivo

E já não me permito mais nada imaginar
Mais nada querer.
Mais nada ser.
Só quero entender:
De onde vem...
Essa força indestrutível
Essa razão incompreensível.