Com a palavra, o Capacete... Eu sou o... dio

Com a palavra, o Capacete...
Eu sou o Capacete, sei que este mês de janeiro está marcado por uma situação muito comentada nos bares, padarias, praças e casas da nossa cidade. Falo sobre o “ladrão do capacete”. Meu visor trinca, ao saber que muitas donas de casa não sabiam mais o que fazer para evitar que suas casas fossem roubadas; senhores que, andando pela rua, procuravam um meio mais discreto possível de proteger suas carteiras e seus automóveis; lojistas que dobraram a atenção da segurança de suas lojas; sem contar a invasão nociva das mentes das crianças que clamavam aos pais que acendessem a luz de seus quartos ou que permitissem que fossem dormir com eles. Mas sou inocente, juro! Sei que meus companheiros motoqueiros já estavam preocupados quando paravam com suas motos na frente de algum estabelecimento, temendo que fossem recebidos de forma hostil, sendo confundidos com o meliante! É claro que ele usava-me devido ao fato de estar dirigindo uma moto, mas existe alguma coisa mais séria e lamentável que aquele homem desejava esconder. Meu psicoterapeuta Junguiano dizia que este lado sombrio, que tanto temia que aparecesse, o qual ele chamou de sombra e que incluía aquelas tendências, desejos, memórias e experiências que são rejeitadas pelo indivíduo como incompatíveis e contrárias aos padrões e ideais sociais, geralmente, aparecem em vossos sonhos e que, freqüentemente, aparece como um animal, um vagabundo ou qualquer outra figura de categoria mais baixa. Eu, o Capacete não me incluo nisto! O modus operandis do elemento demonstrava que não era um larápio qualquer. O terror criado por vocês era mais fruto de uma cidade interiorana marcada pela violência que cresce paulatinamente. Mas graças ao mestre dos capacetes, este homem deu sua última cartada! Perceberam que quando me tiraram de sua cabeça ele se mostrou uma alma desesperada e assustada com tudo o que lhe aguardava a partir daquele flagrante. Ele me confidenciou que o motivo era um veículo seu, instrumento único e essencial para sua sobrevivência, que se quebrara e não tinha como pagar! Não cogitou, armou-se de uma ignorante coragem e esqueceu-se do seu passado sem mácula, da família que o admirava e dos amigos que viam sua luta e esforço! Montou em seu veículo de duas rodas (que precisava ser investigado) escondeu-se por detrás de mim, e partiu para uma viagem estigmatizante. Quando quebramos certos limites, a volta, às vezes, é quase impossível. Eu não protegia apenas sua cabeça! Escondia, também, sua vergonha, seu orgulho em pedir ajuda, sua aparente derrota, as necessidades que iria enfrentar, escondia seu caráter, seu nome, sua dignidade. Vocês não sabem como era difícil para ele chegar em sua casa e tirar-me de sua cabeça! Bandidos roubam vocês sem máscaras e sem capacetes, e até deixam suas credenciais e nunca vi vocês tão indignados. Mas tudo está terminado! À policia, meus aplausos e desculpas por ter sido usado e criado tanto mal! Faço um pedido ao mestre supremo dos Capacetes: Que eu nunca mais seja usado para esconder as mazelas e as sombras de nenhum desesperado inconseqüente!