O último dia, a última expectativa —... Raimundo Santana
O último dia, a última expectativa — e nada muda. O velho se disfarça de novo, o novo se veste de velho; a engrenagem continua a mesma, a roda gira e promete mudança enquanto tudo permanece igual. Quem aposta em novidade vai continuar esperando; o roteiro já está escrito e a cena se repete, sempre com a mesma trilha sonora de promessas vazias.
Tudo está programado para não mudar; a linha do tempo parece selada desde o começo. A balança permanece equilibrada do jeito que interessa a quem puxa os fios, e a vida segue num compasso que não nos pertence. Vivemos dias que se repetem como cópias baratas, onde o esforço vira rotina e a esperança, mercadoria rara.
Não peço aplausos, peço verdade. Quero ver coragem para rasgar o script, para admitir que somos moldados — pensamentos, desejos, escolhas — e que essa moldagem não é inocente. Cansou-me a hipocrisia de quem sorri enquanto manipula, de quem vende futuro e entrega o mesmo presente reciclado.
Que fique registrado: não é conformismo, é denúncia. É recusar a anestesia das promessas e gritar que merecemos mais do que um ciclo bem ensaiado. Se nada muda por fora, que mude por dentro — que a indignação vire ação, que a consciência deixe de ser programada e volte a ser livre.
