A ROSA ESCURA DA DOR. Do Livro: Não Há... MARCELO CAETANO MONTEIRO

A ROSA ESCURA DA DOR.
Do Livro: Não Há Arco-íris No Meu Porão. Ano, 2025.
Autor: Marcelo Caetano Monteiro.
Todos temos dores que não pedem cura, apenas permanência.
Elas florescem no interior como uma rosa que se alimenta do próprio sangue do sentir.
Não gritam. Não suplicam. Apenas se abrem, pétala por pétala, no silêncio mais denso da consciência.
A dor que aqui habita não deseja redenção.
Ela existe como rito, como escolha íntima de quem compreendeu que certos sofrimentos não são falhas, mas revelações.
Há uma voluptuosidade secreta no padecer que se reconhece, uma dignidade austera em suportar a própria sombra sem implorar por luz.
O espírito inclina-se diante de si mesmo, não em derrota, mas em reverência.
Cada pensamento torna-se um espinho necessário, cada memória um perfume escuro que embriaga e ensina.
A alma aprende que nem toda ferida quer ser fechada, algumas precisam permanecer abertas para que a verdade respire.
Há uma doçura austera no ato de suportar-se.
Uma forma de amor que não consola, mas sustenta.
A consciência, exausta de fugir, ajoelha-se diante da própria dor e a reconhece como mestra silenciosa.
Assim floresce a rosa escura.
Não para ser admirada, mas para ser compreendida.
Não para enfeitar a vida, mas para dar-lhe gravidade.
Pois somente quem aceita sangrar em silêncio conhece a profundidade do que é existir.