Largo, vazio, preenchido por metades.... Hannah Cartier
Largo, vazio,
preenchido por metades.
Metades de tentativas sem sucesso,
de buscas cegas por sentidos cansados.
O limite do que me foi imposto
ainda pesa nos meus ombros,
e o “aceito” de me libertar
continua atrasado no tempo.
Busco o que não se toca,
insisto no que não me quer.
Cair dói.
Mas levantar é rasgar o que a dor deixou inteiro.
E mesmo assim eu me levanto —
sem saber direito pra quê.
Até que, entre ruínas,
entre fracassos e silêncios,
sou eu quem apareço
como um erro bonito do meu próprio destino.
Eu ainda não sei em que me sustento,
mas quando minhas mãos encontram as minhas,
o vazio aprende outra forma de existir.
Não vira cheio —
mas vira possível.
A paz continua sendo esse paradoxo:
me afasta do mundo,
mas quando penso em mim,
me puxa de volta.
E no meio da curiosidade sombria,
de imaginar até onde eu iria sem a paz,
surge outra pergunta — mais difícil:
até onde eu vou por mim?
Porque meu amor por mim
não me salva por milagre,
mas também não me abandona.
Ele caminha comigo
quando eu sou metades,
quando eu sou queda,
quando eu sou dúvida.
E talvez seja isso o amor-próprio:
não a saída do abismo,
mas a decisão de sentar na beira
e dizer, em silêncio:
— Eu fico comigo
