ALIMENTO RECÍPROCO DA CONSCIÊNCIA... Marcelo Caetano Monteiro

ALIMENTO RECÍPROCO DA CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL.

A perspectiva analítica espírita exige reconhecer que a Doutrina Codificada por Allan Kardec estrutura uma pedagogia contínua do espírito, cuja dinâmica não se reduz a impulsos emotivos, mas se consolida como processo formativo, progressivo e ético. O título apresentado sintetiza, em termos concisos, esse núcleo metodológico: o Espiritismo não é empolgação ocasional, mas nutrição recíproca entre a inteligência encarnada e o influxo moral do mundo espiritual.

No âmbito epistemológico delineado por Kardec em mil oitocentos e sessenta e um, particularmente em O Livro dos Médiuns, capítulo dois, item vinte e nove, observa-se que o intercâmbio espiritual é regido por leis que exigem disciplina, estudo, continuidade e responsabilidade. A Doutrina, assim, não se efetiva como prática episódica, mas como sistema de educação permanente. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo seis, item cinco, a definição do Consolador deixa claro que a finalidade da revelação espírita é sustentar, esclarecer e conduzir, funções que se realizam somente por assimilação constante e jamais pela adesão súbita ou pelo fascínio sensacionalista.

Essa compreensão é ampliada por Léon Denis, cuja obra filosófica estabelece um elo entre a antropologia moral e a psicologia profunda do espírito. Em O Problema do Ser, do Destino e da Dor, edição de mil oitocentos e noventa e cinco, Denis define o Espiritismo como força evolutiva que alimenta a consciência e transforma o caráter, afastando-o de qualquer acepção transitória. A própria estrutura argumentativa de O Espiritismo na Arte reforça essa continuidade, apresentando a estética espiritual como emanação duradoura da elevação moral.

No campo psicológico-espiritual, Joanna de Ângelis adverte que nenhum processo de autotransformação se dá por mero arrebatamento emocional. Em Estudos Espíritas, capítulo Renovação Interior, ela define a Doutrina como alimento psíquico sistemático, destinado a fomentar lucidez, reequilíbrio e maturidade moral. Sua abordagem, ancorada na psicologia profunda, reitera a natureza de constância, recíproca e cuidadosa, entre o espírito que busca ascender e as luzes que recebe.

Raul Teixeira, em perspectivas pedagógicas e éticas, recorda que o Espiritismo se converte em sustentação moral somente quando vivido em regime de continuidade. Em Pelos Caminhos da Vida, capítulo vinte e três, afirma que a Doutrina não é euforia temporária, mas diretriz diária que educa e molda o caráter. Tal compreensão alinha-se substancialmente com a metodologia kardeciana e com a tradição espírita séria, que exige estudo, reflexão, comparações e verificação constante.

Assim, à luz da hermenêutica acadêmica espírita, o caráter de alimento recíproco implica que o espírito se nutre da Doutrina enquanto a Doutrina se expande pela vivência do espírito. O conhecimento recebido só se consagra quando se transforma em vida moral; e a vida moral, por sua vez, expande e confirma o valor do conhecimento. Trata-se de um processo de dupla mão, rigoroso, progressivo e profundamente ético. Nesse horizonte, o Espiritismo permanece como ciência filosófica da consciência e pedagogia perene da alma que anseia por sua verdadeira perpetuação.
Autor: Marcelo Caetano Monteiro.