A vida, em sua trama sempre... Damião Leão
A vida, em sua trama sempre surpreendente, é feita também de arestas — aquelas superfícies ásperas que nos arranham quando menos esperamos. No entanto, é justamente nesses pontos de atrito que a nossa força silenciosa se revela.
As asperezas da vida são as aulas que ninguém pediu, mas que todos recebem. São quedas que nos obrigam a repensar o caminho; são demoras que nos ensinam a paciência; são portas fechadas que, mais tarde, descobrimos ter nos guiado para lugares muito melhores. A dor, nesses momentos, não é um castigo — é um entalhador. Ela esculpe em nós profundidade, compaixão e uma espécie de brilho que só existe em quem já atravessou sombras.
Cada dificuldade polida com coragem transforma-se numa superfície mais lisa dentro de nós. É assim que, pouco a pouco, o que antes era aspereza vira sabedoria; o que nos machucou torna-se memória de superação; e o que parecia insuportável se revela uma ponte para um eu mais forte, mais inteiro.
Brilhar, portanto, não é ignorar as asperezas, mas aprender a refletir luz mesmo através delas — talvez até por causa delas. Afinal, ninguém ascende na vida apenas por triunfos suaves; é nas irregularidades que descobrimos de que material somos feitos. E, muitas vezes, é justamente aí que encontramos nosso brilho mais verdadeiro.
