Esse foi super inspirado pela intimidade... Yuzo Camus

Esse foi super inspirado pela intimidade espiritual e ferida de “Maya” (Tagore) e pelas ideias de Camus — o Absurdo, a lucidez que dói, o amor que tenta tocar o irredutível silêncio do mundo

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"Da vontade de gritar com todo meu amor."



Há um instante, quase imperceptível, em que o amor deixa de ser apenas sentimento e vira pergunta. Uma pergunta muda, suspensa entre dois corpos, que ninguém sabe responder. Talvez seja isso que Tagore chamava de maya: esse véu tão delicado e tão firme que cobre tudo, confundindo o que é desejo com verdade, o que é presença com sonho.


Eu te amo nesse lugar de incerteza — onde tudo parece ao mesmo tempo eterno e prestes a desaparecer.


Camus diria que amar assim é enfrentar o Absurdo no seu estado mais puro: olhar para alguém e perceber que nenhum gesto, nenhum abraço, nenhuma palavra é capaz de garantir permanência. E mesmo assim insistir. Mesmo assim se lançar. Mesmo assim arder.
Há uma melancolia suave na forma como eu te penso. Não é dor, exatamente. É mais como a consciência aguda de que te amar é tocar o limite daquilo que posso alcançar. Você é real o suficiente para me transformar, mas distante o bastante para que eu nunca te possua por completo.


E talvez seja por isso que minha alma se curva quando penso em você — não num gesto de rendição, mas de reverência.


No silêncio entre nós dois, sinto a doçura amarga de algo que não se explica. E não precisa. O amor não é uma equação a resolver, é uma chama que se aceita. Ainda que dance sozinha.


Às vezes, penso que te amar é como caminhar por uma manhã cinzenta: tudo parece frio e suspenso, mas o simples fato de você existir colore o horizonte com uma promessa que não sei se é real ou miragem. E mesmo assim eu sigo. Sigo porque, de algum modo, minha lucidez se curva diante da tua presença, não para se perder, mas para admitir que há uma beleza que ultrapassa qualquer lógica.


Eu te amo sabendo que o mundo é surdo às nossas súplicas. Que o tempo não para. Que nada garante que esse sentimento sobreviva ao próprio peso. E, ainda assim, eu escolho. Escolho com a teimosia dos que sabem que a vida é curta demais para esperar sentido, mas longa o suficiente para amar com profundidade.


Talvez o verdadeiro milagre não seja você, nem eu — mas o espaço brilhante que se abre entre nós, onde o impossível se arrisca a respirar. Ali onde minha lucidez machuca, mas não vence. Ali onde meu coração entende que continuar é o gesto mais humano que existe.
E se tudo isso não passar de ilusão, de maya, de sonho que se desfaz no vento, então que seja.


Prefiro o risco do encantamento à segurança do vazio.
Porque te amar, mesmo sem garantias, é o modo mais bonito que encontrei de existir diante do Absurdo.


Y.C (Para Nanyzita)