Na Superfície do Ser William... William Contraponto
Na Superfície do Ser
William Contraponto
Vivemos tempos em que a superfície parece suficiente. Alguns permanecem nela por alienação: distraídos, anestesiados pelo cotidiano, pelos hábitos repetidos, pelo brilho falso das conveniências sociais. Seus olhos não enxergam além do espelho que lhes é oferecido; caminham sobre o mundo como quem atravessa um lago congelado, sem perceber a profundidade das águas abaixo.
Outros permanecem na superfície por escolha — ou melhor, para alienar. Criam ilusões, distorcem verdades, constroem muros de banalidade que escondem o abismo da realidade. Manipulam, distraem, desorientam. Mantêm os outros na superfície para preservar seu próprio conforto, sua própria sensação de controle, sua própria fuga do que é essencial.
Entre os que se deixam levar e os que conduzem, há a fratura do pensamento: a consciência, quando desperta, percebe o vão que separa a vida plena da vida aparente. E é nesse vão que reside a urgência do questionamento — da busca por profundidade, da recusa em aceitar o mundo tal como nos é apresentado.
Viver é decidir entre ser superfície ou mergulhar. Mas talvez o maior risco seja descobrir que, mesmo mergulhando, a superfície nunca desaparece: ela nos observa, sempre pronta a nos chamar de volta.
