DOS TICS E DAS CHAVES Sendo nós,... Izabela F Drumond

DOS TICS E DAS CHAVES

Sendo nós, humanos,
seres insatisfeitos por natureza,
andamos — por assim dizer — à flor da pele,
mas sempre como fechaduras
em busca de encontrar sua chave.

E qual é a chave?
Seria o amor, a compreensão,
ou apenas o instante em que nos sentimos completos?

Como dizia Fernando Pessoa, por meio de Ricardo Reis:
“Uns, com os olhos postos no passado,
Vêem o que não veem; outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se.”

Será que queremos sair
dessa prisão de estar em outro tempo,
outro espaço da realidade?

Mas o que seria a realidade?
A total ausência de nostalgia
ou do excesso de esperança?
A ausência que esperamos,
ou a ânsia do porvir
que nunca se cumpre?

Seria o relógio
a maior preciosidade do homem?
Pois todas as dores giram
em torno do que já se foi
ou do que ainda virá.

Diante disso, quanto vale o presente?
Quantos amores, quantas poesias
são instantes vividos,
ou apenas desejos de eternizar
o que já passou
ou o que ainda não chegou?

E ainda assim, como dizia a música de Chico Buarque,
“Prefiro então partir a tempo,
de poder a gente se desvencilhar da gente...
depois de te perder, te encontro, com certeza.”

E assim seguimos,
à flor da pele,
fechaduras que sentem
e esperam por chaves invisíveis,
sempre em busca de um instante
que seja só nosso,
ou a vida se revele —
prefiro então seguir
ao som dos tics e das chaves.

Izabela Drumond