O Ator do Cotidiano William Contraponto... William Contraponto

O Ator do Cotidiano
William Contraponto


Veste o papel sem perceber,
repete gestos da rotina,
crê-se destino no dever,
mas vive cena clandestina.


Sorri o rosto que não é,
fala o que o hábito ordena,
o ser se perde no que vê,
num ato vão de fé pequena.


O mundo aplaude o disfarçar,
confunde vida e personagem,
ninguém recorda o perguntar
que rompe a trama da engrenagem.


No reflexo resta um breve olhar,
vazio entre o script e o ser,
onde o silêncio quer lembrar
aquilo que não quis nascer.


E ao fim, cortina e solidão,
cumpre o papel sem cor nem voz,
talvez a falta, em ilusão,
seja o autor de todos nós.