Medusa Vejo você chegar, cobrindo sua... Gabriel Mazzaro
Medusa
Vejo você chegar, cobrindo sua sina
Aquele ar de pacato mistério nunca me engana
Ouço suas palavras ecoando como o vento
Enchi meu pulmão, me enrolei na trama
Mirei diretamente no seu olhar
Em um instante fui petrificado
Não foi preciso nem os cabelos à me distrair
Escolhi ser amaldiçoado
O amor vem para mim como um veneno
Romeu e Julieta tiveram melhor sorte
Viveriam juntos ou morreriam juntos
Foi recíproco até na morte
O aconchego da medusa é avassalador
Sinto em plenitude, verdade acolho
Em contrapartida sou autodestrutivo
Não permaneço no colo, os olhos escolho
Meus olhos de pedra sangram
Flanela mergulhada em fantasmas
Meu sossego inquieto, desatino
Mesmo que for bom, transformo em nada
Só percebi quando abri a porta
Olhos de epifania em casa empoeirada
Como batuque de escola de samba
Não se esconde o que é visto de muitas calçadas
Acostumado a não variar a entonação
Altos e baixos vão se misturando
Nem mal, nem bom, proteção na monotonia
Perdendo de viver, mas caminhando
Vivi mil anos em uma semana
Consegui, por fim, contemplar as serpentes
Surpresa é que não me assustou o que eu vi
Infortúnio o reflexo da minha mente
De pedra sobre pedra, sobre pedra, sobre pedra…
Com olhos azuis avermelhados
Estátua não recebe impacto forte
Por um descuido, despedaçado.
