O Fardo de Enxergar Por Jotapê É um... Jotapê
O Fardo de Enxergar
Por Jotapê
É um veneno lento, este saber. Uma chaga aberta na alma que insiste em mostrar o quão pouca gente se sustenta em verdade. O ódio que certos hipócritas têm não é o mesmo que sinto por eles. O que me pesa é ver a máscara que carregam e o quanto essa falsidade corrói a convivência. Não fomos feitos para o teatro constante; é na hipocrisia que muitos encontram oxigênio social.
Se às vezes me curvo a essa dinâmica; se ocasionalmente visto a farda camuflada da hipocrisia, é por sobrevivência. Uma rendição amarga a um convívio que exige polidez acima da alma. Por isso escolho a solitude, uma das poucas companhias honestas que conheço.
O que me consome não é vaidade de me sentir melhor que outrem; não me julgo assim. É a maldição de enxergar a podridão por baixo do verniz. Não preciso de longas conversas, de anos de convivência. Basta um primeiro olhar, o tropeço no tom de voz, um gesto contido. A casca se quebra e ali, desnudo e tremente, surge o “demônio”: não o mítico, mas o Mal encarnado na falta de caráter, doutrinado pela conveniência.
E são os olhos que mais me ferem. Janelas da alma, revelam mais do que qualquer palavra ou gesto. Dentro de um olhar posso ver tanto a luz que arde a chama eterna e espiritual quanto a névoa tétrica, sombria “satânica”, que arrepia. É o amor contra o puro ódio; a razão contra a insanidade. Não há máscara que resista ao olhar. Nele, o ser humano se trai.
Nasci com esse dom penoso de distinguir o joio em meio a milhares de pés de trigo. E como isso me faz mal, e a uns poucos que conheço com destino igual. É a dor de ser um detector constante de fraude em um mundo que prefere a ilusão. É um fardo que ninguém invejaria.
Nunca desejei o que é do outro. Nunca lancei maldição. Meu clamor é simples, talvez o último suspiro que me resta: Justiça. Rogo a Ela, e ao Criador, mesmo sabendo que a conexão é frágil, que o mérito é distante, pois todos, de alguma forma, somos indignos. Mas a sede por um acerto de contas, por um equilíbrio, por uma verdade que se imponha, essa sede não se cala.
O mal receberá a sua paga; o bem prevalecerá.
Que a justiça me seja negada em vida; que a verdade nunca se perca.
“O gado morre,
amigos morrem.
Então, você também deverá morrer.
Mas há uma coisa
que nunca morre:
a fama justa daquele que a recebe em vida.”
*Ditado Viking