ÚLTIMO TURNO. 2 Cheguei cedo, saí... jeronimocesarina

ÚLTIMO TURNO. 2

Cheguei cedo, saí tarde.
Fui sombra no chão da fábrica.
Fui número, fui carga, fui alarde
De um sistema que nunca abriga.

O último turno não tem luz,
Só o som da máquina que não dorme.
O suor que escorre e me conduz
A um fim que nunca se conforma.

Não há aplauso no meu adeus,
Nem lembrança no meu lugar.
Só o vazio que me fez
E outro corpo pra ocupar.

Mas sigo, porque parar é cair.
E cair é deixar de existir.




Jerónimo Cesarina