#TempestadeDeEntrega Tempestade de... elizeliasousa

#TempestadeDeEntrega


Tempestade de Entrega
por Eliz Areba


Você veio aninhar em meu coração
como gota oculta de orvalho,
repouso frágil sobre a folha,
tímido,
mas nascente em terra seca.


Não queria margens estreitas


então se fez riacho,
apressado em se converter em rio.


Mas antes,
precisou ser cascata que despenca do alto,
ímpeto de céu rasgado,
como se fosse esmagar a terra —
mas não fere.


A terra se abre, acolhe cada gota,
se deixa saciar,
e o vale inteiro respira.


Até encontrar o mar.


Assim você me fez amar.


E veio a neblina que abraça a montanha,
trazendo consigo a geada
que adorna a relva,
testando se esse amor
iria mesmo solidificar.


Até a chuva que fecunda a terra
se ausentou por um tempo.
Mas nós — pó e chão


não poderíamos rachar.


Então a neve em nós se abrigou,
com o intento de nos transformar em gelo,
em granizo armado,
mas esqueceu-se:
tudo é água,
e viva sempre será.


Pode se recolher em lago quieto,
tornar-se terra fértil,
mover-se em marés,
respirar maresia,
explodir em ondas indomáveis,


até tocar o oceano sem bordas,
onde todas as águas se reconhecem
e se tornam uma só.


Pois toda gota — orvalho,
nascente,
riacho ou mar —
guarda em si
a promessa do infinito.