Agosto chega sem anúncio, com os olhos... Leandro Flores - Escritor,...
Agosto chega sem anúncio,
com os olhos fundos de quem andou muito
e o silêncio de quem cansou de esperar.
Traz o pó da estrada nos ombros
e o vento seco que varre as certezas.
Não promete primavera,
mas também não carrega mais o peso do inverno.
É um intervalo estranho entre a dúvida e a decisão.
Entre o que não foi e o que ainda pode ser.
Os dias se arrastam lentos,
como quem procura no calendário
um motivo pra continuar.
Enquanto isso, no sertão,
a terra racha,
mas os ipês florescem como milagres amarelos.
Porque a esperança, às vezes,
é uma flor que nasce no impossível.
E então a pergunta:
— Que vida você vive: a gosto ou a contragosto?
É o mês dos que pensam em desistir,
mas ainda esperam um sinal.
É o tempo dos que choram calados,
dos que ainda seguram o mundo no peito,
mesmo cansados, mesmo em silêncio.
E fica na boca aquele gosto —
um gosto que ninguém sabe se é de fim ou de recomeço.
Mas é agosto.
E agosto nunca passa em branco,
só passa… a gosto.