“O SONHO DA CAPITÁ” “Me mudei pra... Janilma Lins
“O SONHO DA CAPITÁ”
“Me mudei pra capitá…
Farnelzinho de jabá…
Com farinha de Sergipe…
Me amontei num tal jipe
Dum bacana que ia pra lá…
E parti sem nem olhá…”
“Cantoria esquisita…
Risadagem infinita…
Era muito blá-blá-blá…
Cheguei no meu destino…
Que sonhei desde menino:
A tão bela capitá!”
“Gradecido, seu menino…
Deus te guie no caminho…
Fui sentar pra merendá…
Eita lugar mais bonito…
Um mundão de edifício…
Logo eu vou trabaiá!”
“Satisfeito com a visão…
Igualzinho à televisão…
Logo eu vou enricá…
Mas, pra resumo da prosa…
Procurei obra custosa…
Pra mode eu trabaiá.”
“Serviço logo ajeitado…
Muitas léguas avexado…
Todo dia pra chegá…
Mas num foi nada facim…
Trabalhei de sol a sol…
Pouco tostão pra ganhá…”
“Era motivo de mangação…
Dos colega e do patrão…
Por meu jeito de falá…
Toda aquela empolgação…
Que eu tinha desde bugrelo…
Rebentou igual chinelo…
Que nem prego ia emendá.”
“Só vivia aperriado…
Sonhando em ter arribado…
Mas tristeza vinha já…
E no meio da lembrança…
Do cheirinho da infância…
Derrubei meu mugunzá…”
“Minha Senhora Aparecida…
Me ajude nessa vida…
Quanta fome fui passá…
Pra piorar o desalento…
Me sentia um jumento…
Quem mandou num escuitá?”
“Fi, num se agarre à ilusão…
Porque a televisão tem de mania de enganá…
Tu já é um homem feito…
Só posso te desejá:
Deus te guie e abençoe…
Nessa tá capitá…
Tome aqui o seu farné…
Num se esqueça do chapé…
Pro sol não lhe judiá…”
“Televisão mardiçoada…
Fez minha vida errada…
Porque fui acreditá?”