O Peso das Raízes e dos Frutos Tu que... André toledo
O Peso das Raízes e dos Frutos
Tu que carregas o nome de Filho,
Diz-me: fizeste da tua alma um altar suave
Onde queimaste cada desejo jovem,
E ergueste, em silêncio, a oferenda do teu ser?
Diz-me: caminhaste sobre as pedras agudas da obediência,
Molhando o chão com o orvalho das tuas renúncias,
Acreditando que o amor se tece com fios de sacrifício?
Ah, filho... o altar queimou até cinzas,
E as pedras deixaram marcas mais profundas que o dever.
Tu que carregas agora o nome de Pai,
Diz-me: moldaste os teus braços em colunas fortes,
Pensando que a força bastaria a conter o vento?
Diz-me: semeaste no jardim do outro
As flores que nunca brotaram no teu próprio deserto,
Regando-as com a água acumulada das tuas lágrimas não choradas?
Ah, pai... os ventos sopram de lugares desconhecidos,
E as raízes alheias bebem de fontes que não controlas.
Mas, eis o Desamparo:
Entre o altar extinto e o jardim insondável,
Há um vale silencioso.
Não é de ingratidão, nem de fracasso.
É o vale primordial, onde ecoa o primeiro grito
Que nenhum sacrifício de filho acalma,
Que nenhuma promessa de pai preenche.
Chamas-te "bom" e carregaste a coroa de espinhos da expectativa,
Tua própria mão a tecendo, fio a fio de ansiedade.
"Fiz de tudo", dizes, e é verdade!
Fizeste do teu sangue uma ponte sobre o abismo.
Mas o abismo não se preenche com pontes, apenas se atravessa... nu.
O desamparo que sentes não é falta de amor dado ou recebido.
É o eco daquele primeiro instante em que o mundo te viu
E tu viste o mundo,
E percebeste, na carne frágil da alma,
Que nascer é chegar estrangeiro a um lar terreno,
Que gerar é enviar outro estrangeiro à mesma terra estranha.
Sábio é quem, no fim das pontes construídas,
Se ajoelha diante do vale primordial e diz,
Eis o solo sagrado do humano...
Nem meu pai o preencheu para mim...
Nem eu o preencherei para meu filhos..
Aqui, na vastidão deste desamparo,
Encontro-te, ó estrangeiro que sou em mim mesmo, amigo companheiro...
E te saúdo. Juntos, sob o mesmo céu desconhecido,
Respiraremos a liberdade terrível de sermos apenas...
"O que somos."
Te amo eternamente meu pai.. "Demóstenes Carvalho de Toledo"
André Vicente Carvalho de Toledo.