ENQUANTO ESPERO Enquanto espero... MAGNO RIBEIRO, Wittembergue

ENQUANTO ESPERO
Enquanto espero acontecer,
não sou espera,
sou intervalo entre o que não foi
e o que talvez.
Movo-me em silêncio,
como raiz que rasga a pedra
sem urgência,
sem alarde.
Derramo, sem intenção,
a febre dos meus ais,
como quem deixa escorrer
uma ausência antiga.
Mas há nisso algo que arde
sem consumir,
uma sombra que não escurece.
Vejo sem ver,
e, às vezes, sei.
Não porque me foi dito,
mas porque algo em mim
parece lembrar do que nunca soube.
Não caminho para chegar,
nem permaneço por abrigo.
Sou levado por algo que não escolhi,
mas consenti,
como quem ouve um chamado
sem saber de onde vem,
mas reconhece o tom.
E nisso,
como quem pressente sem saber,
na fidelidade que não cede,
este ser que se suporta e se recolhe
abriga, em silêncio,
um tempo que ainda não veio.
Porque é assim,
enquanto espero,
que me preparo
para, um dia,
ainda poder ir além.