A paternidade não é um título, é um... Malexandres
A paternidade não é um título, é um compromisso.
Raízes que nos lavram
Antes de sermos pais ou filhos, somos solo.
E como todo solo, recebemos sementes: algumas desejadas, outras jogadas com pressa, muitas lançadas com dor.
Não nascemos amando ou odiando nossos pais aprendemos. O amor é uma construção silenciosa, feita de ausências e presenças, de abraços dados ou recusados. E o ódio... se existe, nasce quase sempre como fruto de uma fome: de amor, de verdade, de um nome que não veio.
Crianças são terra fértil.
Tudo o que se joga nelas floresce: o cuidado, a negligência, a ternura, a violência.
Plantamos com gestos. Colhemos com o tempo.
E mesmo as raízes mais finas, quase invisíveis, crescem mais fundo que o tronco aparente.
Por isso, antes de cobrar que o mundo eduque, é preciso perguntar:
que chão temos sido para os nossos?
Porque, às vezes, culpamos a erva daninha...
mas esquecemos que fomos nós que abandonamos o terreno.
A educação começa dentro de casa, mas não só nos livros ou conselhos:
ela começa no silêncio das manhãs, no jeito de pedir desculpa, na escuta que não julga.
Começa quando a criança vê em nós aquilo que um dia sonha ser.
E se um dia o filho que criamos decide deixar de ser árvore para ser espinho, que não seja por nossa ausência.
Que ao menos ele saiba que teve sombra, raiz e água.
Somos o que herdamos, sim mas também somos o que escolhemos fazer com o que herdamos.
Somos filhos das nossas vivências, dos nossos traumas, dos acertos e erros que os nossos pais cometeram com as ferramentas que tinham.
Hoje, como pai, não sou perfeito.
Às vezes, falho como marido.
Às vezes, me desencontro de mim mesmo como filho.
Mas carrego comigo a decisão de ser presença.
De não repetir silêncios.
De ser espelho ainda que embaçado mas espelho honesto.
Os meus filhos...
Ah, os meus filhos são terra sagrada.
E o que será de mim, se não os lavrar com amor?
Não se planta com palavras apenas.
Planta-se com tempo.
Com propósito.
Com fé.
Com mãos sujas de cuidado.
Colhemos o que plantamos.
E às vezes, não colhemos nada porque nunca houve semeadura.
Mas quem planta amor... colhe legado.
Quanto a mim, não precisei ser pai para entender certas coisas.
Mas precisei vir a Luna para enxergar outras tantas.
A paternidade não é um título, é um compromisso.
E quem ama de verdade... dá a vida, mesmo quando ainda está aprendendo a vivê-la.
Por Malexandres