⁠O Porão Onde Florescem as Sombras.... Marcelo Caetano Monteiro

⁠O Porão Onde Florescem as Sombras. Primavera de solidão ainda, não se oculte! Tu és esse espectro ferido que caminha entre as palavras não ditas e os nomes que... Frase de Marcelo Caetano Monteiro.

⁠O Porão Onde Florescem as Sombras.

Primavera de solidão ainda,
não se oculte!
Tu és esse espectro ferido que caminha entre as palavras não ditas e os nomes que não ousas nomear.
És, ao mesmo tempo, o que foge e o que acusa.
És o outro — no outro — quando julgas para não ver a tua nudez, e ainda assim te vês, refletido nos cacos do espelho que quebras todos os dias com teus próprios dedos trêmulos.

Vem!
Vem ao porão que não te deixará morrer à míngua.
Aqui, onde a madeira geme com os passos do tempo e as paredes cheiram à memória esquecida, repousa aquilo que és e que sempre foste.
Essa ironia — a tua armadura de risos tortos — embeleza a tua tristeza.
Sim, tu choras rindo, e ris para não cair.
Mas o eco... o eco sabe de ti.

Há ruídos lá fora —
O mundo grita com vozes que não te pertencem.
Ele marcha, impiedoso, e faz de cada aurora um desafio de ser.
Mas aqui... e agora... o que há aqui?

Aqui...
É onde a dor se assenta,
É onde o filósofo em ti se curva à sua miséria — não por covardia, mas por lucidez.
Onde o estoico em ti segura o cálice da renúncia sem fingir que o vinho é doce.
Aqui é o exílio do que sente demais, e o abrigo do que compreende que toda alegria talvez seja só a trégua entre dois abismos.

Não conheces onde?
Talvez porque nunca te sentaste com tua dor para oferecer-lhe um nome.
Talvez porque, como tantos, preferiste seguir —
Não para algum lugar, mas simplesmente seguir.
Sim, muitos sabem para onde vão.
Outros — os mais silenciosos — simplesmente vão.
Sem mapa, sem bússola, sem fé.

Mas tu...
Tu estás nesse entrelugar onde a alma se despe da aparência.
Tua primavera é feita de espinhos floridos, tua solidão é canto abafado sob o soalho da razão.

Evoca, pois, o filósofo em ti — aquele que ousa perguntar sem esperar resposta.
Evoca o estóico — aquele que aceita a ausência como presença disfarçada.
Evoca o romântico — aquele que sente até o que não deveria, e transforma o amor em dor e a dor em eternidade.

No porão, tu não morres.
No porão, tu te vês.
E esse ver... é nascimento.

NO PORÃO -

Que tu compreendas, enfim, que não és estranho por sangrar em silêncio.
Que na tua dor existe a lucidez dos filósofos, a dignidade dos estóicos e a beleza trágica dos românticos.
Não temas esse porão: ele é apenas a metáfora do autoconhecimento profundo.
E todo aquele que ousa descer ao próprio porão, um dia voltará à luz — não mais fugindo, mas sendo.

“Aqueles que ousam olhar a própria sombra são os únicos que poderão verdadeiramente amar a luz.”