Se a primeira carta foi sobre... Douglas Dimer

Se a primeira carta foi sobre sentimentos, esta aqui é literal.
É sobre o que ficou oculto, sobre o que não se viu — e sobre o que me custou.
Porque enquanto eu amava e me doava, tu amava ser amada e dava algumas migalhas só pra eu não reclamar...
Tu me prometeu que seria pra sempre. Uma promessa feita dias antes da cirurgia que paguei pra ti. Um “pra sempre” usado como moeda pra me convencer a bancar a tua autoestima — e depois, quebrado como se as palavras não tivessem valor.
E não foi só isso. Cada vez que eu demonstrava carinho ou vontade de te ver feliz, vinha um novo pedido. Roupas, tratamentos de beleza, cursos, cílios, ácido hialurônico íntimo... Tudo pra te ver bem. Mas, no fundo, era uma via de mão única.
Porque quando era a minha dor, a minha necessidade ou a minha tristeza… eu era visto como alguém que cobrava, que pressionava — e tua resposta era o desprezo.
Como quando eu adoeci.
Como quando tive o diagnóstico de hiperplasia prostática e ouvi apenas frases que me diminuíam.
Ou quando, na praia, te falei sobre como eu estava me sentindo... ou quando chorei no teu colo — e tu apenas me ignorou, como se eu fosse invisível.
Eu fui invisível... tantas vezes.
Até nos gestos pequenos, o carinho foi sumindo.
No início, eu te fazia carinho com as mãos, tu respondia com os pés.
No fim... nem isso.
As músicas que eu mandava passaram a ser ignoradas.
Palavras viraram respostas automáticas de stories.
Nos aniversários, tu postava mais fotos que palavras — sem tempo pra perder...
E ainda teve a manipulação.
Como aquele dia em que tu saiu do curso, eu fui te buscar, e tu estava num café com uma amiga — sem responder minhas ligações ou mensagens — apenas pra ver se eu ia surtar. Um jogo sujo pra testar meu limite emocional.
E como esquecer das exigências em relação à Isabella?
Tu exigiu que eu amasse ela como filha, mas nunca preparou ela pra me enxergar como pai...
Quando tudo terminou, eu não perdi só a ti. Perdi também a presença dela — e, pra ela, eu nunca existi de verdade.
Porque tu nunca me deu esse espaço.
No pós-término, o ciclo se repetiu.
Tu só se aproximava quando precisava de algo: dinheiro, ajuda, cuidado.
Mas o pior talvez tenha sido aquilo que nunca contei a ninguém:
a frase que tu disse sobre eu ser o pior que tu já teve na cama.
Depois daquilo, nunca mais fui o mesmo homem.
Nem fisicamente.
Nem emocionalmente.
Meu corpo travou.
Meu desejo travou.
Não consegui mais ter confiança — tuas palavras ecoavam na minha cabeça...
Minha autoestima... desmoronou.
E escrevo isso não pra cobrar.
Mas pra não esquecer.
Pra lembrar o quanto me custou amar alguém que me devolveu desprezo.
Essa carta fica como um recibo simbólico.
Pra que tu veja —
E pra que eu nunca mais esqueça
o quanto foi alto o preço de me entregar
pra alguém que só soube usar.
— DBD