Jaine, Talvez essa carta nunca chegue... Douglas Dimer

Jaine,
Talvez essa carta nunca chegue até ti.
Talvez fique apenas aqui — como um ponto final que eu precisava escrever.
Porque eu precisava entender você. E fui atrás disso, mesmo quando doeu.
Por muito tempo, tentei compreender tua instabilidade.
O vai e vem.
Os momentos em que tu dizia querer algo verdadeiro — como nosso casamento — e logo depois vinha a insatisfação, a amargura, a frieza.
Hoje, eu entendo:
Tu não tava tentando amar.
Tu tava tentando te encontrar.
Mas o problema é que tu procurava em espelhos quebrados.
Projetava uma versão tua que “merecia mais”, que precisava ser mais, e isso te fazia buscar sentido em roupas caras, relações por conveniência, joguinhos de validação, apostas virtuais…
Tu dizia que gostava de cuidar, que sentia prazer em ajudar o próximo — e eu acredito que esse lado existe em ti.
Mas, na prática, o que vi foi diferente:
Tua maior busca não era por amor. Era por posição.
Por status.
Por reconhecimento.
Por ser “mais”.
Tu queria ser a dona da clínica — mas faltava grana.
Então surgiram as apostas online.
Tu queria ser vista — mesmo sendo apenas funcionária.
Daí vieram as compras, as dívidas, o esforço de parecer maior do que era.
Tu queria saltar etapas, ter nascido com as possibilidades que outros tiveram — como a Fernanda, o Eduardo…
E pra alcançar esses objetivos, qualquer ponte servia.
Inclusive eu.
Fui o prêmio de consolação.
O objetivo principal era o advogado — o Matte.
Mas ele foi esperto, só quis te usar.
E eu… o Douglas apaixonado, sem amor-próprio, encantado pela menina de 22 anos, caí como um patinho na lagoa.
Foram seis anos assim.
Tu te aproximava quando eu era útil.
Te afastava quando eu virava espelho — quando te mostrava tua própria bagunça.
Foi quando comecei a me sentir usado que caiu a ficha.
E eu assinei minha demissão emocional.
Tu não suportou ver a verdade.
Por isso me descartou.
Eu vi quando tu quase voltou comigo — não por sentimento, mas pelo projeto da clínica.
Vi teus olhos brilharem — não por mim, mas pela chance de te igualar à Fernanda e ao Eduardo.
Vi teu desprezo quando disseste que eu só falava, que eu não tinha condições de montar nada.
Vi tua frieza quando bloquearam tua conta — e tu culpou todo mundo, mas esqueceu q um casal corre junto...
E vi o desprezo final…
Quando tu usou palavras pra me atingir como homem.
Vi tua admiração por mim diminuir quando eu priorizei minha família, quando deixei de lado o status pra estar com quem precisava de mim.
Ouvi várias vezes:
> "Te admiro como pai."
Pra quem amava como homem, ouvir isso era uma facada nas costas.
Hoje, 5 de julho de 2025, eu entendo.
E deixo ir.
Nunca foi amor.
Tu dizia o que era conveniente.
Mas no fundo... era um projeto.
E eu… eu não sou projeto.
Sou homem.
Sou presença.
Sou valor.
Sou coração.
E não me iludo mais com aparência, nem com o dinheiro dos ricos.
Doeu entender que o Murilo nasceu de um amor que só eu sonhava ver florescer.
Doeu perceber que eu me culpava por não te fazer feliz — quando, na verdade, nada te faria feliz.
Porque tu nunca quis o simples.
Tu queria o inalcançável.
Tu achou que eu era rico — e eu só era rico em amor.
Dei tudo o que pude. E isso… ninguém tira de mim.
Se um dia tu conseguir se olhar com coragem no espelho, talvez perceba:
Teu maior inimigo nunca fui eu.
Foi a ausência de ti mesma.
Talvez, aí, tu comece a cuidar de verdade.
Não dos outros.
Mas de ti.
E eu torço por isso.
Torço pra que um dia tu descubra o que o amor de verdade pode fazer com alguém…
quando ele é real. Quando ele é inteiro.
Mas por mim…
O ciclo termina aqui.
– DBD