A Antimística na Poesia-Reflexiva de... NENO MARIA MARQUES

A Antimística na Poesia-Reflexiva de William Contraponto
A poesia de William Contraponto é um território onde o sagrado não entra. Não por intolerância, mas por lucidez. Ele escreve a partir da fratura, não da fé. Seus versos não pedem bênção nem anunciam milagres. Não há promessas de luz nem pactos com a transcendência. O que há é pensamento. Pensamento cru, sem disfarces, atento ao jogo de forças que molda o mundo e os corpos.
Sua poesia é uma forma de resistência simbólica à sedução do absoluto. Em lugar da mística que apazigua, Contraponto oferece a dúvida que desinstala. Ele não canta a alma em êxtase, mas a consciência em ruína. A espiritualidade aqui não se eleva. Ela desce, interroga, desmonta. Busca no chão as perguntas que a metafísica costuma esconder sob mantos dourados.
A antimística de William Contraponto não é um gesto de negação vazia. É uma recusa pensada. Ele sabe que toda crença carrega um custo. Sabe que muitas vezes o conforto da fé é comprado com a moeda do silêncio, da obediência, do autoapagamento. Seus poemas não atacam a religiosidade individual, mas a indústria da redenção. Não zombam da busca por sentido, mas expõem os atalhos fabricados para controlá-la.
Não há espaço para o milagre onde o poeta vê estrutura. O que se apresenta como sagrado, ele examina como construção. O que é vendido como divino, ele desmonta como discurso. Sua escrita se nutre do desconforto de pensar em vez da segurança de crer. Não há salvação. Mas há clareza.
Na poesia-reflexiva de William Contraponto, a ausência de Deus não é um vazio. É um convite. Um convite a suportar o mundo sem muletas metafísicas. A construir sentido sem terceirizar o olhar. A habitar o tempo sem desejar estar fora dele. Sua poesia não é ascensão. É travessia. E cada verso, uma pegada crítica sobre a areia movediça daquilo que chamam verdade.
Seus poemas não consolam. Mas acordam. E isso, por si só, é um gesto profundamente humano.