⁠Janelas É pragmático que em algumas... Victor Rangel

⁠Janelas

É pragmático que em algumas ocasiões das nossas vidas, nós nos deparamos com alguns acontecimentos que na maioria das vezes se tornam rotineiras em nossos cotidianos.

Embora nunca estejamos preparados para o inesperado, algo que venha a nós desestabilizarmos, tirando nossa paz e equilíbrio social e mental, insistimos em manter as coisas em ordens, e boa parte do tempo ignorando certos momentos indesejáveis, enriquecendo nosso ego sem precisar menosprezar e rebaixar ninguém, deixando de lado possíveis aborrecimentos.

Ao me referir em janelas, quero dizer que, nunca estamos preparados para vê-las fechadas quando em uma vida inteira a vimos abertas, deixando o vento entrar, o sol iluminar, a natureza trazer para dentro de nossas casas o sabor e o cheiro da natureza. O barulho dos automóveis e das infinitas pessoas que passam todos os dias em frete as nossas casas. Algumas janelas são acompanhadas de alpendres cobertos, outros nem tanto, apenas com uma cortina entreabertas ou um simples toldo pelo lado de fora. Existem aquelas janelas que nós trás o conforto de uma boa vizinhança ou de algumas indesejáveis pessoas.

Tendo isso em mente, vê-las fechadas, nós trás pensamentos de angústia, solidão e desespero, dependendo do ponto de vista de quem às vê fechadas ou de quem vive por trás delas.

Sim, há ocasiões que tenhamos que fechá-las por conta do temporal que se forma lá fora, mas por algumas horas ou por uma noite.
Até o sol sente falta e fica inconformado quando às vê fechadas, pois isso impede que seus ricos raios solares adentre dentro das residências.

O vento, rum... ¬ele também não gosta de vê-las fechadas e tenta entrar pelas miseras brechas que nela tem ou por qualquer outra que a casa contém.

Pelas janelas, cortejamos a grandeza de Deus, sua criação perfeita da natureza e dos animais.

Janelas servem de porta-voz para amores, admirações e até quem procura paz, ela serve de divan. Algumas delas tem vidros em formato quadrado com persianas, com assentos estofados, ficam lindas quando há uma combinação de chuva, ventos e raios.

Até uma simples casa abandonada contém janelas, e geralmente existem histórias por trás delas que dependendo do seu ponto de vista podem ser boas ou ruins.

Quero dizer que, não gosto de vê-las fechadas, isso me dá uma sensação estranha de que algo aconteceu ou de que o amor, a paz e a felicidade que antes residiam ali, foram embora para outro lugar, procuraram outras casas que sempre as deixa livre para transitar por qualquer lugar, usando as janelas como túneis como forma de passagens.

Na rua onde moro, existe uma dessas casas onde moram um casal de idosos muitos simpáticos, um casal maravilhoso que estão casados a mais de 50 anos. Moro nesta rua a um pouco mais de 3 anos, e nunca vi as janelas deles fechadas. São 365 dias por ano abertas, nem pela noite ou quando está chovendo elas são fechadas, e não, não existe perigo onde moramos porque morando em uma área nobre no centro da cidade e contamos com a estabilidade da segurança publica e privada, sem contar com as infinitas câmeras de segurança espalhadas pela rua inteira.

Há algumas semanas, pela primeira vez eu às vi fechadas, e isso me deu uma agonia, uma dor, algo que não sei explicar. Vinha descendo a rua orando e agradecendo a Deus, quando de costume olhei para a casa deles e vi aquelas lindas janelas que outrora sempre viviam escancaradas com suas persianas brancas pulando para fora, agora fechadas.
Os dias percorreram normal, as janelas agora voltaram a se abrir, mas dessa vez, apenas um lado de cada uma delas ficavam abertas.

Alguns dias mais tarde, recebi uma notícia que me pegou desprevenido.
Soube que a senhorinha adquiriu um câncer de mama... isso me deixou abalado e me fez refletir que sim, as janelas são porta-vozes de muitas notícias, algumas delas nem tão boas assim como a que eu soube.
Elas jamais foram as mesmas para mim desde então.

Por noites longas, eu fecho as cortinas do meu quarto, porém mantenho minha janela aberta para que na manhã bem cedinho o som dos pássaros possa me acordar. Por coincidência, minha janela dá de fundo para a casa desse casal, e do alto da colina consigo ver a casinha deles e aqueles pequenos movimentos lá dentro para manter as coisas em ordem. Pela minha janela, o vento me trás o doce e saboroso cheiro de um café bem passado. O sol adentra no meu quarto e reina por alguns breves instantes.
Em dias frios, o sol se faz ausente boa parte do tempo, e o vento é frio e seco. Nos vidros das janelas se forma pequenas películas de gelo. Pelas nossas bocas saem ventos acompanhados de uma pequena fumaça fria e congelante. A vida vive nesses lares, algumas breves, outras longas.
É duro pensar que o inesperado pode acontecer, porém nunca sabemos com quem. Não sabemos nem como vai ser nosso próximo segundo ou se estaremos vivos no próximo ano ou no próximo dia.

Não... não feche as suas janelas. Não impeça que as coisas boas invadam sua casa. Não deixe que ninguém às fechem por você.

E sim... se um dia elas fecharem, se preocupe, o vento também é um grande porta-voz de notícias, e ele tem essa liberdade de fechá-las para você na intenção de passar alguma notícia para você, esteja preparado.