Início do Fim A morte não é um golpe... Daniel Avancini Araujo

Início do Fim
A morte
não é um golpe final,
nem o apagar abrupto
de uma chama que ardeu em vão.
Ela começa
no primeiro sopro de vida,
como um murmúrio ancestral
gravado na espinha dorsal do tempo,
uma promessa silenciosa
de que tudo que nasce
traz em si
o prenúncio de partir.
Somos nós
quem tenta adiá-la
ou apressar sua chegada,
como se a permanência
fosse um direito herdado,
como se o fôlego
fosse posse
de quem o exala,
esquecendo que o ar
é só um empréstimo
da eternidade.
Entre o nascer
e o desfolhar da última pétala,
somos intérpretes falhos
de um roteiro
traçado pelas mãos do acaso,
dançando na corda bamba
do existir,
prolongando cada passo
como se a terra
não estivesse sempre
a um deslize
de nos tragar.
A morte
não é antítese da vida,
mas sua sombra inseparável,
um vulto paciente
que nos acompanha
até o instante
em que já não há mais corpo
para projetá-la,
quando o vazio,
enfim,
reivindica o espaço
que sempre lhe pertenceu,
e nós,
como poeira,
nos dissolvemos
no ventre do universo.