A Serenata Uma noite de lua pálida e... Adélia Prado

A Serenata Uma noite de lua pálida e gerânios ele viria com boca e mão incríveis tocar flauta no jardim. Estou no começo do meu desespero e só vejo dois caminho... Frase de Adélia Prado.

A Serenata

Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mão incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
– só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?

Adélia Prado Poesia reunida. Rio de Janeiro: Record, 2015.