RELVA - CAPÍTULO 2 Ter deficiência... Alan Motta Lins

RELVA - CAPÍTULO 2

Ter deficiência visual nos coloca em situações engraçadas, muitas pessoas acreditam que não estamos percebendo o que está ao nosso redor, mas ninguém imagina que não enxergo mas ouço dez vezes mais que os outros, então, os cochichos, as pausas na fala, a velocidade e a entonação da voz tomam forma
.
Dificilmente erro ao apontar que alguém está mentindo, seja por excesso de detalhes nas historias ou pela falta dos mesmos, sempre percebo a estrelinha, toda história tem um perfume, e muitas não cheiram bem como parece
.
16h12
.
- O que eu deveria dar para uma mulher se estivesse apaixonado?
- Sei lá, Levi.. algo bonito, que você goste muito? - Tipo uma Jaca?
- Que mulher gostaria de receber uma Jaca de presente? Diz Sara em um tom cansado debochado - Você está apaixonado Levi? Impressão minha? - Acho que estou ficando.
- Por quem?
- Arethusa.
Sara se ergue em tom de surpresa sob a grama verde. - A professora de Arte? Levi. Ela tem pelo menos o dobro da sua idade. É linda. Admito. Mas jamais ficaria com você.
- Ficaria sim. Uma jaca encantada e ela seria minha para sempre. Eles riem.
- Sara, ela é a única que me trata como alguém normal. A maioria dos professores falam comigo como se eu tivesse problema mental, sendo extremamente didático. Acho isso péssimo. Dia desses Arethusa chegou perto de mim e percebi o cheiro do cabelo dela. Parecia amêndoas e baunilha. Desde então sempre que ela está próxima eu reconheço e meu coração dispara.
- Levi, você está se iludindo. Ela não te quer. Nem você, nem a jaca.
- Sara, um homem que ama uma mulher sente isso de longe. O cheiro do cabelo dela deve ser reconhecido e admirado. Pode ser um amor platônico. Sim. Mas tenho direito de sonhar. Não? Sou praticamente cego, e é no escuro da alma que nossos sonhos mais íntimos se realizam
.
.
.
.
Sara imagina que tenho dez por cento de visão, devo ter bem menos, nunca disse isso à ela, provavelmente eu perca toda a visão em um ano. Vejo tudo em vultos. Vejo a vida em silhuetas. Sei que Sara tem cabelos castanhos e a minha altura. Não mais que isso. Mas sei que os lábios dela são doces como uma romã madura.
.
Imagina como? .
.
.
CONTINUA