Eu aceito O auge da simplicidade foi... Maria Luiza de Souza

Eu aceito
O auge da simplicidade foi quando ouvi daquele senhor franzino, aparência humilde, mas com um sorriso constante no rosto um sincero e agradável: eu aceito. Não era muito o que eu tinha a oferecer, eram apenas algumas notas que ao certo nem perceberia que tirei da carteira com aquele objetivo. Estava no meu momento de descanso e quando a gente está em viagem gasta que nem vê. Não me faria falta e, ele aceitou com o sorriso de maior gratidão que já havia visto na vida. Para ele aquele montante era realmente importante talvez o que lhe faria sobreviver no próximo amanhecer. Meu coração encolheu. Não por pena, mas por amor. Tirei mais algumas notas da carteira, inventei uma desculpa qualquer para entrega-las e, disse do mais sincero do meu coração que em uma próxima passagem por lá, gostaria de revê-lo. E para que entendam que não se trata de uma simples alegação de doação preciso contar como tudo começou. Cidade histórica, manhã de domingo, tudo abre depois do meio dia já eram 11hs e estava faminta sentada no gramado, à sombra de uma arvore até que ele apareceu. Sentou no muro ao lado de um casal que estava à minha frente. Aparência humilde, camiseta um pouco rasgada e na cabeça um monte de histórias para contar. Parecia saber falar sobre cada pedra que tinha no lugar, contava com detalhes, com entusiasmo com brilho nos olhos, não tive como não prestar atenção. Até me passou pela cabeça um pensamento mesquinho que era para cobrar daquele casal a famosa caixinha de guia turístico de lugares assim. Depois de uns 40 minutos de conversa o casal se despediu, ele sorriu, não pediu nada e ainda disse: “vão com Deus”. Era uma conversa de amigos, ilustres desconhecidos que se encontraram, trocaram umas palavras e muita energia boa entre as almas e seguiram. Achei fantástico aquilo. E vi que aquele senhor era na verdade um pedacinho de Deus que vez ou outra a gente encontra na Terra. Me senti confortável com ele. Perguntei se ele saberia de algum lugar por perto que teria uma comida boa. Ele sorriu como se conseguisse acreditar na minha pergunta. Senhora, o melhor é tal estabelecimento e se a senhora comer lá eu ainda ganharei uma marmita. Eu, descrente que sou, duvidei das recomendações dele. Que erro! Mas não falei nada, não foi necessário. Ele logo falou, ainda sorrindo: mas se a senhora preferir aqui na cidade, bons ainda temos esse, esse e aquele... não ganharei nada nesses, mas a senhora quem sabe. E completou: Mas senhora, posso te garantir que o melhor é mesmo esse. Vá, a senhora não vai se arrepender! Eu acompanho a senhora. Confiei nele, de alguma forma minha alma se sentiu confortável na presença da dele. E ele fez mais que uma simples companhia. Como sempre, sou um desastre na escolha de algumas peças de roupa e, nessa viagem especificamente, me superei; fui de bota, com um pequeno salto, mas que escorregava muito quando pisava na pedra lisa. Vendo a minha dificuldade ao andar ele estendeu a mão e com todo o pudor para não me ofender por estar com o calçado inadequado, disse: deixa que eu a acompanhe até o local. Aceitei, e ele foi meu ponto de equilíbrio por todo caminho. E ainda, foi contando sobre a história e tentando se engradecer dos meus sutis conhecimentos e pontos de vista que, sinceramente? Não eram nada perto do rico conhecimento popular que ele, sem estudo, fazendo isso, sendo gentil com o mundo, adquiriu pelo caminho. Chegamos e ele me desejou um bom almoço, e disse que se eu não me importasse ele gostaria de me mostrar dois pontos importantes da cidade depois do almoço, como forma de agradecimento. Mas... Meu Deus! Agradecer pelo que?! Ele que havia sido incrível comigo o tempo todo! Fiquei até um pouco sem graça, mas disse ok, sem acreditar que ele me esperaria por tanto tempo. E ele mais uma vez com brilho nos olhos e toda confiança do mundo completou: leve o tempo que a senhora precisar para comer e aproveite porque a comida aqui é realmente boa. E, só a título de curiosidade: ele estava completamente certo! O local era maravilhoso, atendimento de primeira, a companhia agradável e a comida... hummm... MINEIRA NÉ?! Rsrs. Levei mais de uma hora. Pedi a conta e sem acreditar que ele ainda estaria ali, sai. Quando surpreendentemente, passei pela porta ele estava a conversar e rir. Logo me perguntou o que eu tinha achado. Agradeci e falei que era incrível. Ele sorriu e disse: Eu sabia que a senhora iria gostar! Procurei então acreditar no meu coração, agradecer a Deus por ter colocado aquele senhor no meu caminho naquele dia. Andamos um pouco pela cidade, contei sobre minha rotina, meu trabalho e ele achou fantástico. É engraçado como as vezes a gente precisa de outras pessoas para acharem a nossa vida mais interessante que nós mesmos conseguimos achar né?! A verdade é que a gente vive pedindo, pedindo e esquece de agradecer a todos os milagres que Deus faz por nós. A gente quer sempre mais e não valoriza o que tem. A gente desconfia de tudo e tende a não acreditar que somos merecedores de algumas alegrias, puras e sinceras que existem por aí. É difícil, a gente erra, mas no fim essas pequenas coisas. Esses pequenos momentos de felicidade é que valem nosso momento da terra. Desde então agradeço meus pequenos milagres, acredito na minha esperança e, sigo meu coração. Em tudo daí graças, tudo tem um porquê ainda que a gente não entenda, confie e agradeça.