Escolhas... É nossa condução que nos... EdsonVaguiner

Escolhas...

É nossa condução que nos leva onde almejamos chegar...
Cada passo nos leva ao destino que traçamos.
Todo detalhe conta.
Um cálculo que nunca é exato...
Fiz uma retrospectiva, cheguei onde queria. Descobri que não era ali que desejei estar; mas o tempo não para, tampouco retrocede.
Quem voltou fui eu... No tempo...
Coração dilacerado, alma estilhaçada, cortes e recortes, pedaços de pano costurados em um espantalho.
Agulhas perfurando o corpo.
Bonecos não sente dores, disse um robô, com muita fé.
Robôs não sente dores. Disse o espantalho, meio espantado.
Escolhi ficar parado num pomar, espantando aves que brincam de espalhar sementes...
Ora, seu moço, não é tão ruim assim. Tirando os cães que ladram, casulos que morrem, sem a sorte da metamorfose, o sol escaldante, o medo das crianças que brincam ao longe, estou um tanto satisfeito.
Ouvi boatos que sou Judas, e serei queimado, outros dizem que sou a imagem de um cristo crucificado. Se a pobre senhora que me costurou pudesse contar, diria que sou apenas um boneco empalhado, o chapéu era de um senhor, a roupa, de um menino, os olhos, de um urso velho, o cabelo, de capim, o sapato, de um andarilho que com dó me calçou e seguiu descalço... mãos, luvas de um pobre trabalhador, tudo, doado!
Sinto compaixão da senhora, que escolheu costurar...
Pobre de mim, que escolhi ser assim, um pouco de um bocado. Quieto, inquieto, pois meu corpo não será embalsamado, temo por ser cremado, sem ritual religioso, nem um funeral adequado, pois quando chega o inverno, o pomar fica alagado, o dono sempre zangado coloca a culpa no pobre espantalho que não espanta ninguém e no lugar de boas árvores, nascem Matos também. Sementes dementes, que ficam torturando os lavradores, que escolheram carpir...
Já escolhi minha companheira, uma boneca ligeira, feito de pano, igual a mim.
Penso todos os dias no casamento, aliança de ouro, tirada do jardim. O que vale é a intenção, pois, se meu coração é de retalhos, sentimentos de luxo, é ilusão.
A lua não será de mel, nem as bodas, de papel, escolhi algo simples, nossa vista será sempre o céu...
Aqui estou eu, de braços abertos tentando espantar os corvos, com medo de alguém assumir meu lugar, e no verão virar gravetos, lançado em uma fogueira, fumaça incômoda, queimado pelo dono que escolhi...
Se me perguntassem, antes de me sentenciar, eu responderia: Escolho não escolher, minhas escolhas acabaram comigo, pobre espantalho de alma sentenciada...