Sempre ví nos lírios uma... Paula de Fátima António...

Sempre ví nos lírios uma transparência
algo relacionado a pureza, a fragilidade
tamanha exclusividade...
E os lírios que abundam nesses sítios
são os que vivem dentro de mim
Lírios feito em delírios, revestido em mistérios
Mistérios esses que só se desvendam quando se enxerga na perfeição
não com os olhos mas com a alma e o coração

(Portanto hoje) se puderes, se quiseres, me enxergue… não como todo mundo que caminha pelos meus campos diariamente faz;
pra alguns eu sou simplesmente parte da natureza, mera conhecida, passo despercebida
Outros se atraem de longe pelo perfume que exalo mas continuam sua trajetória e me apagam da memória
Alguns até chegam a me contemplar de perto, admirando o branco leitoso que reveste minhas pétalas como se fosse um desenho perfeito mostram algum interesse a respeito mas não se esforçam pra me manter por perto
Alguns vão um pouco mais além, sentem meu tez suave e ao me tocarem, perfumo-os inevitavelmente, eu sou assim e não sei ser diferente mas infelizmente ainda assim as vezes parece insuficiente ou simplesmente não há real interesse, o que sinto torna-se indiferente e por pura maldade com tamanha voracidade arrancam minhas pétalas embora os tenha feito saber o tão leve que quase dissolvo ao toque da mão, embora os tenha feito conhecer o melhor de mim simplesmente se vão.
Alguns nunca caminharam por aqui, nunca me tocaram, nunca me viram de perto nem tão pouco sentiram meu aroma de longe porém sugam meu pólen, com comentários destrutivos ousam julgar meu ser baseando-se em nada mais do que retratos da maneira mais subtil que me deixei fotografar.

Se puderes, se quiseres, me conheça… Muito além das flores perfumadas, da cor viva e beleza exuberante, da aparência física que sempre é realçada, repare em como desabrocho dentre o verdor da folhagem que me cerca, conheça minha essência, da determinação de germinar do solo por mim mesma, da sensibilidade que não se perdeu apesar das grandes tempestades; da solidão que me envolve fazendo me fechar nas noites frias mas ressurgir sorridente todas as manhãs ao raiar do sol, das conquistas, das esperanças, dos sonhos ainda vivos apesar de todos empecilhos; do muito que me esforço para marcar minha existência...

Se puderes, se quiseres, me escute… escute não o que com os lábios digo, escute as palavras silentes em mim que tanta nitidez transmitem em metáfora viva da sublimação do disforme disfarçado em conversas superficiais; escute o que compõe minha trilha sonora, sintoniza-te na frequência que sincroniza minhas profundas emoções...

Se puderes, se quiseres, me sinta… Sinta o quão suave é o tez da minha pétala, minha pele...quão frágil é meu coração; mas também sinta o quão firme está a minha raiz no solo, no que quero, no que acredito no que anseio, sinta o ritmo que me faz vibrar, dançar, sinta o que acelera meus batimentos cardíacos, que me faz soltar meus melhores risos; sinta a parte amorosa que saiu ilesa a indelicadeza alheia, a parte em mim que continuou a acreditar , a se entregar e a se desprevenir…

Se puderes, se quiseres, me ganhe… sendo cuidadoso com minha fragilidade, perceptível a minha dor, tolerante com meus medos exagerados, predispõe-se a cultivar minha essência, conheça minha nudez, não somente a física mas a nudez de minha alma, do meu ser. E se não conseguires me compreender de uma só vez, seja paciente com o meu tempo de dizer, com o meu tempo de ser, afinal de contas os lírios são plantados no inverno mas so brotam no verão…

Sou um lírio em busca de terreno para florescer, abriga-me em teu coração , permita-me embelezar, perfumar e colorir teus dias, planta-me em ti, use e abuse do meu perfume para banhar-se no prazer, deixa-me despertar em voce doçuras adormecidas, e se permitires, brotarei tanto que farei das minhas raizes á profundeza do teu ser e me imortalizarei em sua alma; mas se não puderes, se não quiseres, se porventura o teu terreno é seco e não te vês capaz de com amor regar-me diariamente, se seu terreno é limitado para que eu possa atingir alturas admiráveis tentando me reduzir a certos padrões ou se o teu terreno não tem a luz suficiente para aumentar vida aos meus dias então simplesmente deixa-me nesse lodaçal que é meu ambiente natural, deixa-me aqui nesse pântano que é a minha vida que apesar dos apesares não me limita, muito pelo contrário, aqui eu posso ser livre, leve e multicolor… EU POSSO SER QUEM EU SOU… afinal de contas OS MAIS BELOS LIRIOS NASCEM DA LAMA.