Em meio aos meus tantos desertos, esse... Hámilson Carf

Em meio aos meus tantos desertos, esse meu caos, esse inverno interminável… Brotaste tuas primaveras em mim, levou-me para fora de minhas cavernas, mostrou-me através do teu sorriso (E que sorriso), a luz do mundo, aqui fora de mim.
Logo eu, um mar revolto, envolto aos meus tantos medos. Um invólucro de traumas, acuado entre os meus devaneios. Eu neguei, me esquivei, ignorei toda espécie de sentimento lançado à mim. Ergui muralhas de incredulidade por toda a minh’alma, desmoronei sonhos antigos em mim.
Apaguei quaisquer resquícios de probabilidade de amar, de sentir, de querer. Tornei o meu céu cinzento, sequei minhas fontes de querer. Dilui em meu sorriso, a antipatia de um AFASTAR.
Eu era mar bravio, eu era deserto avassalador, um contentamento descontente…
Um passado com cara de presente.
Em meio às ruínas de um homem falido emocionalmente, você encontrou beleza, sim! Você encontrou sensibilidade, a minha sensualidade adormecida. Você encarou meu mar bravio, resgatou-me em teus braços, acolheu-me em teus abraços. E quando nem mesmo eu cria em mim, você mostrou-me as minhas paisagens escondidas. Atravessaste meus muitos desertos, e ao invés de pedir-me água, tu a deste a mim. Saciou minha sede de amor, aliviou minha angústia… Lembro-me com carinho do teu sorriso ao meu ver. Não julgou-me, não apedrejou-me, simplesmente abraçou-me e fez-me sentir querido. Talvez você tenha visto minha tristeza, minh’alma abatida, é mesmo assim elogiou o meu olhar. Dia após dia fui redescobrindo contigo o amor, a pureza do gostar de alguém, a certeza de querer este alguém sempre perto.
O homem deserto agora vive habitado por emoções inefáveis, construindo planos à dois, eclodindo um querer aprazível, desaguando a felicidade em tuas fontes do idealizar.
Cada data, cada dia ao teu lado é uma dádiva dos céus, um brinde dos “deuses”. Um embriagar-se do mais refinado vinho, teus lábios são como uma adega, como é maravilhoso perder os sentidos contigo.
Que seja amor, que seja reciprocidade, que seja para sempre, é que seja um sempre que nunca acabe.

(Carf, 2017)