Apenas constatamos a primavera, sempre... Artur da Távola

Apenas constatamos a primavera, sempre depois que ela chega e, pretensiosos, supomos ter sido feita somente para a nossa fluição. E ninguém, dias antes, meses a... Frase de Artur da Távola.

Apenas constatamos a primavera, sempre depois que ela chega e, pretensiosos, supomos ter sido feita somente para a nossa fluição. E ninguém, dias antes, meses antes, sei lá, encosta o ouvido na árvore, no caule ou na planta, para escutar a melodia da fauna criadora que lhes vai por dentro, o ruido dos ritos da preparação.
Sempre estou a imaginar a agitação da seiva, a mobilização das energias renascidas na intimidade vegetal. Quando chega a véspera da primavera, chego a sentir o corre- corre interno das plantas, sua preparação célere, aquele detalhe sempre esquecido ou deixado para a última hora.
(...)
Ninguém nunca saberá o esforço, o trabalho, o sofrimento e a consequente alegria vegetal, operados secretamente na intimidade imóvel de cada caule, tronco ou galho.